A imprensa de ontem fez eco significativo de umas previsões com origem em França que apontam no sentido de que o próximo Verão seja o mais frio dos últimos duzentos anos. Alguns especialistas olham com reserva estas previsões na medida em que os modelos probabilísticos usados contêm níveis significativos de falibilidade.
A imprensa de hoje dedica também bastante espaço ao universo das previsões, noticiando que as previsões da OCDE contrariam as previsões do Governo e da Troika no que respeita à recessão e ao crescimento. Para 2013, a OCDE prevê uma recessão de 2.7% enquanto Governo e Troika apontam para 2,3% e no crescimento para 2014 a OCDE indicia 0.2% face a 0.6% previstos pelo Governo e pela Troika.
Há umas semanas o I fez um trabalho muito interessante sobre o que designou por o "mundo delirante das previsões da troika" centrado, naturalmente na falha clamorosa de todas as previsões elaboradas pelos especializados e geniais técnicos que administram o país exemplificando com dados relativos ao défice, ao crescimento ou ao desemprego.
Sabemos da falibilidade da obra humana mas é demasiado grave que estes gurus acompanhados, pelos seus adjuntos internos, Passos Coelho, Vítor Gaspar e colaboradores definam um conjunto de políticas gravosas, promotoras de exclusão e pobreza assentes em falhas inaceitáveis dos seus modelos de análise e que de tal processo não se extraia uma conclusão óbvia, é necessário e urgente redefinir modelos e políticas mas na qual, como parece óbvio, os adjuntos internos da troika não estão minimamente interessados.
O resultado de tudo isto é uma persistência cega e surda e uma inabalável fé nos seus falíveis modelos, traduzidas no “custe o que custar", no cumprimento dos objectivos do negócio com a troika e mesmo na definição de objectivos de uma política "over troika", atingindo claramente o limite do suportável afectando gravemente as condições de vida de milhões. Estamos a falar de pessoas, não de políticas, ou melhor, estamos a falar do efeito das políticas na vida das pessoas.
Este "mundo delirante das previsões da troika", como lhe chama o I, seria um bom exemplo da conhecida metáfora do burro meteorologista, não fora a tragédia que causa na vida de milhões de pessoas.
No entanto e voltando às previsões da metereologia e apesar da falibilidade dos modelos, acho que desta vez elas estarão certos. A maioria de nós vai viver um Verão muito frio, com a esperança congelada e com um forte arrefecimento no ânimo e na confiança.
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