sexta-feira, 24 de maio de 2013

POLÍTICA? NÃO ME METO NISSO

Segundo um inquérito realizado pela Comissão Europeia destinado a jovens e inquirindo-os se considerariam a hipótese de se candidatar num processo de eleição política em qualquer momento da sua vida, 52% dos inquiridos afirmou, “de certeza que não” e 26% refere, "provavelmente não". 
No âmbito da UE a percentagem dos que afirmam seguramente não querer envolver-se na actividade política sobe para 79%. Quanto ao comportamento de eleitor, 48% afirmou ter votado pelo menos uma vez nos últimos 3 anos o que significa um abaixamento relativo a dados anteriores.
Este trabalho recordou-me uma outra peça de há algum tempo que abordava a possibilidade do voto aos 16 anos, aspecto que não parece estar na agenda em Portugal. Retomo algumas notas neste universo, o envolvimento dos jovens na vida política mais activa.
Uma nota inicial para reflectir na razão ou razões pelas quais as pessoas aos 16 anos, em Portugal,  tendo a possibilidade legal de casar, trabalhar ou serem responsabilizados criminalmente não podem ceder ao voto.
Alguns afirmam boa parte destes adolescentes não terão maturidade para o uso "responsável" do voto. Provavelmente, algumas das pessoas que entendem que as pessoas com 16 anos não têm maturidade, ficarão indiferentes ao espectáculo indecorosos de "manipulação" e "compra" dos votos a que assistimos em todos as campanhas eleitorais, que envolvem desde as ofertas, os passeios, as promessas que não se vão cumprir, até às recompensas com lugares aos mais empenhados e melhor colocados nos aparelhos. Parece-me fraco o argumento se considerarmos, como já referi, que socialmente e pessoalmente as pessoas com 16 anos são capazes e como tal consideradas pela comunidade e pela lei, relembro casar e trabalhar, por exemplo.
O voto sem restrições a partir dos 16 anos apenas  se verifica na Áustria, registando-se menor abstenção que no escalão 18-20 anos, o que sugere o interesse dos mais jovens pela participação cívica.
Do meu ponto de vista esta é a questão central, a participação cívica  que os dados hoje conhecidos da Comissão Europeia também reflectem. O modelo e cultura política instalados há décadas na nossa comunidade, a partidocracia, fomentam, explicita ou implicitamente, o afastamento de grande parte dos cidadãos da participação cívica activa pois, basicamente, ela corre por dentro ou sob tutela dos aparelhos partidários. Aliás os níveis crescentes e muito altos da abstenção em sucessivas eleições espelham isso mesmo.
Tal cenário alimenta um significativo e comprovado desinteresse dos jovens, mas não só, pela coisa pública e pelo envolvimento activo. A participação dos jovens na coisa política tem sido conformada, quase que exclusivamente, às juventudes partidárias, que servem, com excessiva frequência de trampolim para os lugares políticos, Passos Coelho e António José Seguro, são dois actuais e excelentes exemplos desta carreira. Curiosamente há poucos dias o Dr. Fernando Negrão, fiura de relvo no PSD defendia que os adolescentes do 3º ciclo "não deveriam ter contacto com a Constituição". Elucidativo. Deve, no entanto, registar-se que nos últimos tempos parece estar a emergir alguma motivação para a acção cívica mas fora da tutela partidária.
Por outro lado, esse desinteresse pela participação cívica, alinhada nos aparelhos, alia-se a um outro entendimento de consequências extremamente importantes, a falta de esperança e confiança em que as coisas possam tornar-se diferentes, ou seja, isto não muda, não adianta.
Neste cenário, parece-me, por um lado, que o voto aos 16 anos seria sustentável pelas características e competências das pessoas nesta idade e por aquilo de que já são responsáveis e autónomos. Por outro lado, talvez o alargamento do voto possa ser um contributo para o rejuvenescimento e melhoria da saúde da nossa democracia minimizando as consequências da captura pela partidocracia da participação cívica dos cidadãos.
Gente mais nova, pode trazer comportamentos e ideias mais novas.

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