A CARGA POLÍTICA AMIGA E CARGA POLÍTICA INIMIGA

"Governo critica parecer do CES, por assumir “cariz de marcada apreciação política"". Como é fácil perceber o parecer do Conselho Económico e Social emitiu um parecer cujo conteúdo é crítico relativamente às políticas seguidas pelo Governo.

Expectuando os representantes do Governo todos os outros elementos, representantes das confederações patronais, sindicais, autarquias e organizações da sociedade civil votaram favoravelmente o parecer. Acontece que como, Silva Peneda, o Presidente do CES, afirma, o Conselho “é um órgão constitucional, o presidente é eleito por dois terços dos deputados e é constituído por representantes de organizações da sociedade civil, que sentem o pulsar da sociedade portuguesa”. “As afirmações são fundamentadas tecnicamente”, mas o CES, diz, “não é constituído por técnicos”, pelo que, assume, as apreciações não podem deixar de conter um conteúdo e uma dimensão política com significado.

Do meu pontode vista não poderia ser de outra maneira, insependentemente do sentido da apreciação.

O que me parece interessante é esta estranha persistênca de entender que as decisões do Governo em todos os sectores ou áreas apenas têm um caracter técnico e não vinculam claramente conteúdos políticos. São política, pura e dura, como é evidente.

Se bem se recordam, o Dr. Fernando Negrão defendia há dias que os alunos portugueses não "deveriam ter contacto" com a Constituição nas escolas porque o texto tem uma "carga ideológica". Este episódio espelha o mesmo entendimento, combater a dimensão política, ideológica, presente, obviamente, em todas as medidas que envolvam a organização e funcionamento das sociedades.

As críticas à dimensão, à carga política, relevam de um entendimento estranho e manhoso  de que os modelos e as orientações que defendem e impõem a milhões de pessoas não são eles próprios contaminados por uma fortíssima carga política.

O que acontece é que críticas positivas parecem representar "carga política boa" e as críticas negativas são "carga política má" e, portanto, inaceitável.

Estranho entendimento da democracia.