É o mercado, estúpido, pensei para comigo, face à
notícia de que alguns laboratórios disponibilizam aos médicos cartões de desconto
que os "clientes" "fidelizados" utilizarão nas suas compras
de medicamentos.
Não é a primeira iniciativa do género no âmbito
da saúde. Recordarão que no início de 2012 um grupo privado divulgou a
realização de descontos no acesso a alguns dos serviços que presta.
Tal como então, esta iniciativas levantam alguma
perplexidade e existe quem coloque sérias reservas à legitimidade ética da
promoção de descontos na área da saúde.
A referência à ética nos tempos que correm em
Portugal provoca-me um sorriso entre o amarelo e o amargo. Os promotores
defendem-se com a solidariedade e o apoio às famílias portuguesas num momento
difícil, cheio de dificuldades e com a regulação do mercado para não
comercializarem logo de início os medicamentos a preço mais baixo. A referência
à regulação do mercado deixa-me outro sorriso amargo.
Não sei o que se irá passar no sector dos
fármacos mas na prestação de serviços de saúde este comportamento agressivo e
concorrencial que sustenta, por exemplo, o recurso a promoções pode vir
tornar-se muito estimulante. É o mercado a funcionar, dizem.
Poderemos então assistir na área dos
fármacos a descontos conseguidos, por exemplo, pela angariação de clientes que solicitem aos
seus clínicos determinado fármaco, por cada três clientes, um antidepressivo mais
em conta para o "angariador" seria uma "atençãozinha" simpática.
No que respeita aos serviços de saúde poderemos
teremos descontos e promoções a sério, "Num internamento de três dias,
oferecemos-lhe o terceiro", "Por cada TAC, oferecemos-lhe uma
radiografia à escolha", "Por cada três consultas de especialidade,
oferecemos-lhe uma quarta consulta da especialidade que desejar", etc.,
etc.
É o mercado e a saúde é um excelente mercado.
Acresce a que a política actual está a torná-lo um mercado ainda mais
atractivo.
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