sexta-feira, 10 de maio de 2013

PROMOÇÕES NA SAÚDE? É o mercado, estúpido

É o mercado, estúpido, pensei para comigo, face à notícia de que alguns laboratórios disponibilizam aos médicos cartões de desconto que os "clientes" "fidelizados" utilizarão nas suas compras de medicamentos.
Não é a primeira iniciativa do género no âmbito da saúde. Recordarão que no início de 2012 um grupo privado divulgou a realização de descontos no acesso a alguns dos serviços que presta.
Tal como então, esta iniciativas levantam alguma perplexidade e existe quem coloque sérias reservas à legitimidade ética da promoção de descontos na área da saúde.
A referência à ética nos tempos que correm em Portugal provoca-me um sorriso entre o amarelo e o amargo. Os promotores defendem-se com a solidariedade e o apoio às famílias portuguesas num momento difícil, cheio de dificuldades e com a regulação do mercado para não comercializarem logo de início os medicamentos a preço mais baixo. A referência à regulação do mercado deixa-me outro sorriso amargo.
Não sei o que se irá passar no sector dos fármacos mas na prestação de serviços de saúde este comportamento agressivo e concorrencial que sustenta, por exemplo, o recurso a promoções pode vir tornar-se muito estimulante. É o mercado a funcionar, dizem.
Poderemos então assistir na área dos fármacos a descontos conseguidos, por exemplo, pela angariação de clientes que solicitem aos seus clínicos determinado fármaco, por cada três clientes, um antidepressivo mais em conta para o "angariador" seria uma "atençãozinha" simpática.
No que respeita aos serviços de saúde poderemos teremos descontos e promoções a sério, "Num internamento de três dias, oferecemos-lhe o terceiro", "Por cada TAC, oferecemos-lhe uma radiografia à escolha", "Por cada três consultas de especialidade, oferecemos-lhe uma quarta consulta da especialidade que desejar", etc., etc.
É o mercado e a saúde é um excelente mercado. Acresce a que a política actual está a torná-lo um mercado ainda mais atractivo.

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