No Público encontra-se um trabalho tão
interessante quanto preocupante sobre o aumento significativo de situações em
que por dificuldades económicas decorrentes do quadro de crise profunda que
atravessamos, muitas pessoas, mães e pais, não conseguem cumprir as responsabilidades
que lhes estão atribuídas por processo de regulação parental.
Trata-se de mais uma espécie de dano colateral da
crise que, como é sabido, atinge de forma indirecta sobretudo os grupos mais
vulneráveis, caso das crianças.
Como parece claro, para além de dificuldades
inerentes ao próprio processo, por vezes complicado, moroso e com níveis de
sofrimento muito forte para adultos e crianças, surgem ainda os obstáculos no
cumprimento das responsabilidades repartidas.
Neste universo é de recordar que dados recentes
do Ministério da Justiça mostraram que os casos de regulação do poder paternal
demoram cerca de um ano, em média, a ser decididos pelos Tribunais. Parece
dispensável sublinhar o quanto inaceitável e potenciador de riscos esta
situação se torna para todos os envolvidos, designadamente as crianças e o seu
superior interesse, o princípio fundador da lei, apenas da lei.
Com o actual quadro legislativo, compete ao
Instituto de Segurança Social a intervenção nos casos de regulação parental
decorrentes da separação das famílias. Para 2012 esperavam-se cerca de 37 000
casos para os quais o Instituto tem 154 técnicos, dados de meados de 2012,
sendo ainda que alguns acumulam outras funções, por exemplo, nas Comissões de
Protecção de Menores.
Neste cenário verificam-se atrasos de 8 a 12
meses nas respostas e falhas absolutamente deploráveis no acompanhamento às
situações advindas dos tribunais de família, com as previsíveis consequências
paras as crianças, mas também, naturalmente para os adultos que, apesar da
separação, não perdem a condição de pais e desejam vê-la regulada.
O princípio fundador do nosso quadro normativo, o
Superior Interesse da Criança, tantas vezes lembrado e tantas vezes esquecido,
exige, obviamente, que esta situação seja com a rapidez possível minimizada.
Se a este cenário acrescer as dificuldades de
pais e mães no cumprimento das responsabilidades não é difícil perceber quanto
podem sofrer as crianças envolvidas nestes processos.
Acontece que, como o trabalho do Público refere,
se trata de uma área em que a disponibilização em tempo útil de ajuda e apoios
é extremamente difícil de garantir e, para não variar, sofrem os mais
vulneráveis e sendo certo que é imprescindível proteger o bem-estar das
crianças, também não devemos esquecer que, em muitos casos, existem também
adultos em enorme sofrimento. Ajudando-os, os miúdos serão ajudados.
Sem comentários:
Enviar um comentário