quinta-feira, 30 de maio de 2013

AS OBRAS PÚBLICAS E OS DISCRETOS INTERESSES

Quem como eu tem vivido em Portugal nas últimas décadas, sabe com segurança que as grandes obras públicas realizadas ou idealizadas sempre tiveram, têm, por base muitos outros critérios que não o da racionalização dos custos ou justificação da necessidade.
A torneira aberta pela integração na União Europeia e um fluxo de dinheiro que parecia não ter fim permitiu alimentar realizações e sonhos que serviram interesses da mais variada natureza a começar pelos jogos políticos, os interesses dos grupos económicos amigos dos sucessivos governos, os narcisismos megalómanos de muitos dirigentes autárquicos, etc. É certo que de todo este desvario alguma herança ficou ao nível de infra-estruturas e equipamentos para as populações mas muito, mesmo muito, se desperdiçou em elefantes brancos e inutilidades cuja manutenção actual nos sai caríssima. Mesmos "sonhos" que nunca viram a luz do dia como o TGV ou o novo Aeroporto de Lisboa são excelentes exemplos daderiva incompetente e irresponsável na gestão dos interesses públicos. Duas obras que não aconteceram mas que já absorveram muitos milhões de euros sem que exista ou se preveja a identificação de alguma responsabilidade imputada a quem sucessivamente foi alimentando estes processos.
Serve esta introdução para me referir ao custo astronómico, bastante superior ao custo por km do TGV,  hoje divulgado previsto para a construção de um ramal ferroviário entre a Trafaria e o Pragal, que a proposta de passar o terminal de contentores de Lisboa para a margem sul, na Trafaria, torna necessário.
Sou suspeito, vivo na margem certa do Tejo, a sul, e não simpatizo de todo com a destruição da Trafaria e da zona envolvente de arriba para a construção do terminal de contentores e do ramal ferroviário para além de outros equipamentos ou vias.
A questão que me preocupa é que o que venha a ser decidido esteja bem para lá da análise racional dos custos, das necessidades e do impacto para ambiente e pessoas. Talvez seja de tentar perceber o que vai acontecer as terrenos libertados pelos contentores em Lisboa, quem ganha com as obras e com a deslocação para a Trafaria deste terminal.
As autarquias da margem sul, sobretudo a de Almada, já se manifestaram abertamente contra o projecto, seria de ouvir as populações através, por exemplo, de um referendo. Mas continua a faltar muita informação.
O custo previsto por quilómetro sendo importante é apenas um dado, nem sequer o mais importante.
Aguardemos por novos desenvolvimentos.

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