Quem como eu tem vivido em
Portugal nas últimas décadas, sabe com segurança que as grandes obras públicas
realizadas ou idealizadas sempre tiveram, têm, por base muitos outros critérios
que não o da racionalização dos custos ou justificação da necessidade.
A torneira aberta pela integração
na União Europeia e um fluxo de dinheiro que parecia não ter fim permitiu
alimentar realizações e sonhos que serviram interesses da mais variada natureza
a começar pelos jogos políticos, os interesses dos grupos económicos amigos dos
sucessivos governos, os narcisismos megalómanos de muitos dirigentes
autárquicos, etc. É certo que de todo este desvario alguma herança ficou ao
nível de infra-estruturas e equipamentos para as populações mas muito, mesmo
muito, se desperdiçou em elefantes brancos e inutilidades cuja manutenção
actual nos sai caríssima. Mesmos "sonhos" que nunca viram a luz do
dia como o TGV ou o novo Aeroporto de Lisboa são excelentes exemplos daderiva
incompetente e irresponsável na gestão dos interesses públicos. Duas obras que
não aconteceram mas que já absorveram muitos milhões de euros sem que exista ou
se preveja a identificação de alguma responsabilidade imputada a quem
sucessivamente foi alimentando estes processos.
Serve esta introdução para me
referir ao custo astronómico, bastante superior ao custo por km do TGV, hoje divulgado previsto para a construção de
um ramal ferroviário entre a Trafaria e o Pragal, que a proposta de passar o
terminal de contentores de Lisboa para a margem sul, na Trafaria, torna
necessário.
Sou suspeito, vivo na margem
certa do Tejo, a sul, e não simpatizo de todo com a destruição da Trafaria e da
zona envolvente de arriba para a construção do terminal de contentores e do
ramal ferroviário para além de outros equipamentos ou vias.
A questão que me preocupa é que o
que venha a ser decidido esteja bem para lá da análise racional dos custos, das
necessidades e do impacto para ambiente e pessoas. Talvez seja de tentar
perceber o que vai acontecer as terrenos libertados pelos contentores em
Lisboa, quem ganha com as obras e com a deslocação para a Trafaria deste
terminal.
As autarquias da margem sul,
sobretudo a de Almada, já se manifestaram abertamente contra o projecto, seria
de ouvir as populações através, por exemplo, de um referendo. Mas continua a
faltar muita informação.
O custo previsto por quilómetro
sendo importante é apenas um dado, nem sequer o mais importante.
Aguardemos por novos
desenvolvimentos.
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