O Ministro Nuno Crato expressou há dias a sua estranheza perante a convocatória por parte de algumas estruturas sindicais de uma greve de professores que acontecerá em dia de exames nacionais. Mais afirmou que "não permitirá que os alunos sejam prejudicados". Umas notas breves.
Em primeiro lugar é difícil realizar uma greve que não tenha algum impacto na comunidade, esse é, justamente, uma das componentes do próprio processo da greve, seja em que sector de actividade for.
Parece-me também claro que os professores, na sua esmagadora maioria, prefeririam certamente não sentir motivos para realizar a greve, portanto, criar algumas dificuldades a pais e alunos certamente. É também claro que muitos professores se sentem suficientemente maltratados pelas políticas educativas para que possam enveredar pela greve, dentro do quadro legal existente, com as consequências previsíveis.
Sei também que a educação é, desde sempre, permeável, às diferentes agendas dos interesses politicos próprios da partidocracia, nenhuma dúvida sobre isto e que também não esqueço a propósito da greve agora anunciada. Aliás, já o tenho afirmado, do meu ponto de vista, parte dos problemas que afectam o nosso sistema educativam radicam na deriva política e na agenda dos interesses partidários que se movem sempre no universo da educação.
Quanto à afirmação majestática do Ministro de que não permitirá que os "alunos sejam prejudicados" também uma breve reflexão.
Também não fico satisfeito por o afirmar mas parte das medidas de política educativa que o MEC tem vindo a desenvolver e a implantar prejudicam os alunos e prejudicam seriamente. Creio que o futuro próximo se encarregará de confirmar isso mesmo.
Excessiva concentração de alunos em mega-agrupamentos, turmas sobrelotadas, reformas curriculares que na verdade são sobretudo formas de dispensar professores, falta de dispositivos de apoio e de recursos técnicos que apoiem o trabalho e as dificuldades de alunos e professores, normalização dogmática de procedimentos e formas de avaliação negando ou comprometendo a equidade e a acomodação das óbvias diferenças entre os alunos, burocratização do trabalho dos professores através de umas insustentáveis, nos termos em que estão definidas, metas curriculares, etc., etc., são medidas que claramente prejudicam ou vão prejudicar os alunos. Por isso afirmo que alguns dos problemas dos professores são também problemas nossos.
É também por isto tudo que continuo a achar muito actual a existência de uma figura há muitos anos defendida pelo enorme João dos Santos, um Provedor da Criança (ou da Educação), alguém que por "obras valerosas" e posicionado fora do sistema assumisse com clareza o "superior interesse da criança.
Até lá, à vez e por diferentes actores, os mais novos, os alunos, serão "prejudicados".
Não têm voz.
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