O bom caminho em que entrámos após a tomada de
posse das entidades que em nome dos mercados se apoderaram dos nossos destinos
e nos transformaram numa obediente feitoria administrada por um
Primeiro-ministro adjunto da Troika continua bastante claro.
Alguns indicadores que comprovam a bondade da
solução imposta. Com uma política de proletarização da economia o emprego
apenas cresceu para salários até 310€, suficiente para continuar dentro do
limiar de pobreza que mais não é preciso. Temos 17.7% de desemprego que se
estima continuar a crescer. Este cenário representa cerca de 1,8 milhões de
portugueses em emprego ou função laboral a tempo inteiro. No escalão mais jovem
o desemprego está nos 42.1% e mais de metade dos desempregados, cerca de 560
000, são de longa duração e, portanto, sem expectativa realista de voltar a
entrar no mercado de trabalho.
A este quadro acresce um programa de rescisões
por “acordo mútuo” na administração pública, ou seja, despedimentos, a contínua
redução dos apoios sociais, reformas e pensões e, claro, estamos no bom
caminho. Bom caminho para quem? Perguntem a milhões de portugueses na pobreza
ou risco de pobreza se se sentem no bom caminho.
Com uma cumplicidade e fidelidade canina que
embaraçam, os feitores e os donos dos destinos concebem uma devastadora
situação da qual releva o aumento brutal de situações de pobreza, bem acima das
estatísticas oficiais, o aumento fortíssimo do desemprego e do número de
pessoas desempregadas sem subsídio de desemprego, o abaixamento dos apoios
sociais, a pobreza a afectar crianças e idosos, sempre os grupos mais
vulneráveis, a manutenção de simetrias gritantes na distribuição da riqueza,
enfim, um inferno para milhões de portugueses.
Este é o resultado de uma persistência cega e
surda no “custe o que custar", no cumprimento dos objectivos do negócio
com a troika e dos objectivos de uma política "over troika",
atingindo claramente o limite do suportável e afectando gravemente as condições
de vida de milhões. Estamos a falar de pessoas, não de políticas, ou melhor
estamos a falar do efeito das políticas na vida das pessoas. E estamos no “bom
caminho”?
Creio que já ninguém consegue sustentar que este
trajecto nos possa levar a bom porto, está à vista o quanto é insustentável a
insistência neste caminho. Na verdade, o caminho decidido, por escolha de quem
o faz, é bom registar que existem alternativas, está a aumentar assimetrias
sociais e obviamente a produzir mais exclusão e pobreza mas, insisto, mais
preocupante é a insensibilidade da persistência neste caminho.
Com este terramoto social e económico ainda se
insiste no discurso do “temos que empobrecer”, é esse o “bom caminho”. Isto
indigna até à raiva, nós já estamos pobres, nós não precisamos de ficar mais
pobres.
Insistir no empobrecimento é insulto e terrorismo
social é armar uma bomba de efeitos devastadores. Nós precisamos de combater a
assimetria da distribuição da riqueza e produzir mais riqueza, precisamos de
combater mordomias e desperdício de recursos e meios ineficientes e muitas
vezes injustificados que alimentam clientelas e interesses outros. Nós
precisamos de combater a teia de protecção legal e política aos interesses dos
mercados e dos seus empregados que conflituam com os interesses das pessoas.
O que precisamos é de coragem e visão sem
subserviência ao ditado dos mercados e dos seus agentes para definir modelos
económicos, sociais e políticos destinados a pessoas e não a mercados ou a
grupos minoritários de interesses.
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