O Primeiro-ministro deu hoje mais um excelente exemplo de palavras que não podem ser ditas, aliás, na linha do que vários elementos deste Governo, incluindo ele próprio, têm proferido. Em declarações que apanhei num jornal televisivo, Passos Coelho falou da "visão doentia dos que acham que tudo está mal".
Na verdade, nem tudo está mal mas muito está mal, sobretudo na vida de milhões de portugueses. Por irónica coincidência, foram hoje conhecidos os dados do desemprego disponibilizados pelo EUROSTAT e que voltam a atingir valores dramáticos mantendo-se a expectativa de que continuem a subir.
O desemprego atingiu em Abril 17.8%, perto de um milhão de pessoas, valor que de acordo com os especialistas está abaixo do valor real. Destes desempregados, apenas 44% têm acesso ao subsídio de desemprego. O desemprego jovem atingiu uns devastadores 42.5%.
Todos os dias são relatadas situações e apelos de pessoas e de instituições de solidariedade face à multiplicação de casos de extrema carência, incluindo fome, e aos quais as instituições públicas e privadas têm progressiva dificuldade em responder.
Neste contexto, Passos Coelho vem designar como "visão doentia" os que entendem que isto "está mal".
Passos Coelho, como muitos políticos que sucumbem à vertigem do poder, acabam a confundir a realidade com a projecção dos seus desejos e a perder de vista o impacto do que decidem na vida das pessoas. Talvez tenhamos que reflectir sobre quem tem uma "visão doentia".
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