O Tribunal Constitucional
entendeu no final da semana que passou que a mãe a quem há um ano, repito, há
um ano, o Tribunal de Sintra tinha determinado que lhe fossem retirados sete
dos dez filhos para entrarem em processo de adopção. Irá agora ser decido pelo Tribunal da Relação
de Lisboa se a decisão do Tribunal de Sintra se mantém ou haverá lugar a um
nova decisão como reclama a família.
A decisão do tribunal de Sintra assentou no
alegado e sucessivo incumprimento de
várias medidas de protecção dos menores sendo que a família era acompanhada
desde 2007. O caso foi na altura mediatizado pois, ao que foi afirmado, uma das
medidas não cumpridas pela família, seria a prova por parte da mãe de que
estaria em apoio hospitalar para laqueação das trompas. O tribunal sublinhou
que a mulher persistia na rejeição de tal intervenção argumentando convicções
religiosas. Parece relevante acentuar que não existiam referências a maus
tratos.
Também é público que alguns procedimentos processuais
foram questionáveis pelo que o Tribunal Constitucional entende que a família
pode recorrer da decisão.
Neste contexto retomo algumas notas sobre este
tipo de situações.
Um primeira referência para algo de tão habitual
como indesejável, a morosidade das decisões judiciais que envolvem os menores e
os seus problemas. Ainda há dias referi o caso particular das decisões de
regulação da guarda parental.
Como é evidente e creio que deve ser
sublinhado, a comunidade, através das diferentes entidades e instituições que
intervêm neste universo, tem a obrigação de proteger as crianças de negligência
e maus tratos, nenhuma dúvida sobre isso, trata-se do superior interesse da
criança, tantas vezes esquecido. Quero dizer com isto que não discuto, não
tenho informação suficiente, a bondade da retirada das crianças à família,
embora entenda, como a generalidade das pessoas, que esta deva ser sempre uma
medida de fim de linha a que se recorre depois do insucesso de outras
abordagens.
O que me pareceu como disse absolutamente
inaceitável foi a aparente imposição da esterilização da mãe. Confesso que
muitos dos comentários entretanto produzidos sobre esta situação me deixaram
perplexo e preocupado, mais preocupado.
Do meu ponto de vista seria aceitável um processo
de aconselhamento no sentido de evitar novas gravidezes dadas as difíceis
circunstâncias de vida da família. Julgo que a parentalidade é de uma enorme
responsabilidade e, portanto, ser objecto de decisões também elas responsáveis,
no entanto, a comunidade não pode ultrapassar limites éticos e morais mesmo que
pretenda um objectivo aceitável, não pode valer tudo. Neste sentido, registo a
posição do presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida
que considerou a decisão do Tribunal um “absurdo impensável”.
Não sei se a aparente imposição da laqueação das
trompas poderá ter implicações legais, mas num plano ético e moral parece-me,
na verdade, absolutamente inaceitável e atentatório de direitos individuais.
Como disse, há alguns anos atrás confrontei-me
com uma situação semelhante, em que uma mulher a quem se aconselhava a
laqueação das trompas por fazer gravidezes sucessivas de crianças com
deficiência a ter recusado por razões de natureza cultural. Foi muito difícil
encontrar um equilíbrio numa situação complexa e que protegesse os interesses
das pessoas envolvidas ou que poderiam vir a estar envolvidas com novas
gravidezes.
Não são situações fáceis, são mesmo muito
complexas, entendo que devemos ter alguma cautela nos juízos de valor sobre
todas as pessoas que de alguma forma estão comprometidas com a situação agora
conhecida, mas à comunidade é exigido o respeito por um conjunto de princípios
que regule procedimentos.
Sendo a comunidade a hipotecar princípios éticos
entramos numa arriscada deriva discricionária que pode ter efeitos
imprevisíveis.
5 comentários:
Boa tarde professor:
Não me parece que a juíza da primeira instância tenha tomado esta decisão como quem toma um copo de água.
Da minha experiência, as equipas da CPCJ não andam propriamente a brincar em serviço.
A questão que eu coloco é a seguinte: a mãe acordou ou não de livre vontade laquear as trompas?
Se a mãe acordou livremente, quebrou o acordo com o tribunal ou não?
Eram estas as perguntas que eu gostava de ver respondidas.
Abraço
António Caroço
Olá António, também não acho que as CPCJ "brinquem em serviço" embora trabalhem em condições pouco aceitáveis pela falta de recursos. No entanto a questão tem a ver com os tribunais, aí sim, existe morosidade, incompetência e decisões incompreensíveis. Conheço muitos casos.
Quanto à laqueação de trompas não percebo como pode ser uma "medida" a estabelecer, com ou sem acordo que, a imprensa na altura referiu, não parecia posssível dada a religião da mãe envolvida.
Olá professor, creio que uma das maneiras de acelerar estes processos de regulação de poder parental, era os pais aparecerem nas avaliações psicológicas determinadas pelo tribunal. São faltas e mais faltas.
Eu não discuto a maldade e a bondade da laqueação das trompas, a existir um acordo foi assinado pelas duas partes. A questão que se coloca é se o tribunal tem legitimidade para propor uma solução destas. Contudo, obrigado só se tiver uma pistola apontada à cabeça e mesmo assim posso escolher morrer.
Agora ouvir dizer o padre Marcelo Rebelo de Sousa que não se conheciam problemas de toxicodepencia e um dos filhos até ia bem na escola, como se isto bastasse para proteger o supremo interesse das crianças.
Eu não tenho uma má opinião geral dos juízes.
Mas pelos vistos juiz porreiro é o do Barreiro. Rima e é verdade.
Abraço
António Caroço
Esta senhora já ultrapassou a dezena de filhos, e é uma de várias esposas do mesmo homem. Já há netos. O Islão permite a poligamia e os muçulmanos vêm para a Europa procriar e viver à conta do contribuinte. E os portugueses que querem ter UM filho e não podem, porque não têm dinheiro para o sustentar? Enquanto isso, pagamos todos para as equipas de futebol que estas pessoas dão à luz. E em breve não haverá portugueses nem europeus. «Aconselhamento»??? :-) Os senhores não sabem nada da vida, sinceramente... Têm prateleiras cheias de livros, mas a Vida, nunca a viram como ela é, cá fora!
Caro anónimo:
a Juiza devia era ter mandado laquear as trombas a si.
António Caroço
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