Recordando Camões, o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades, umas mais simpáticas que outras, deve
dizer-se.
Segundo o Relatório Europeu sobre Drogas de 2013,
da responsabilidade do Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência,
em 2012 foram introduzidas no mercado 73 novas drogas, as detectadas, um
mercado florescente de há uns anos para cá e sempre em crescendo no número de
novas substâncias conhecidas.
Muitas destes novos produtos entram em circulação
legal em diferentes países no mercado das smartshops que recentemente foi
objecto de regulação bastante mais restritiva em Portugal, embora a venda
destas chamadas "drogas legais", muitas agora ilegalizadas, deslize
para o mercado clandestino.
Por outro lado, é ainda de salientar a tendência
crescente, como o Relatório agora conhecido evidencia, da utilização da net e
das redes sociais como suporte à venda de drogas. Nada de surpreendente,
poderíamos mesmo dizer, sinais dos tempos. Se as redes sociais podem assumir
papéis significativos em movimentos sociais e políticos, porque não no tráfico
de droga, uma das mais lucrativas actividades dos nossos dias.
Este cenário, não só pelas suas consequências,
mas pela “facilidade” de funcionamento e da dificuldade do combate, necessita
de uma política séria de prevenção e tratamento para além do combate ao tráfico
que possa, tanto quanto possível, contar com os recursos adequados, mesmo em
cenários de contenção, como sublinha João Goulão, presidente do Observatório.
A questão preocupante e que tem sido motivo
regular de alerta por parte de especialistas, é que os cortes e ajustamentos
nos recursos humanos e materiais disponíveis correm o risco de criar sérios
constrangimentos na prevenção, tratamento do consumo e do combate ao tráfico.
Como muitas vezes tenho escrito, existem áreas de
problemas que afectam as comunidades em que os custos da intervenção são
claramente sustentados pelas consequências da não intervenção, ou seja, não
intervir ou intervir mal é sempre bastante mais caro que a intervenção correcta
em tempo oportuno. A toxicodependência e o consumo do álcool são exemplos
dessas áreas.
Quadros de dependência não tratados
desenvolvem-se habitualmente, embora possam verificar-se excepções, numa
espiral de consumo que exigem cada vez mais meios e promove mais dependência.
Este trajecto potencia comportamentos de delinquência, alimenta o tráfico, reflecte-se
nas estruturas familiares e de vizinhança, inibe desempenho profissional,
promove exclusão e “guetização”. Este cenário implica por sua vez custos
sociais altíssimos, persistentes e difíceis de contabilizar.
Costumo dizer em muitas ocasiões que se cuidar é
caro, façam as contas aos resultados do descuidar.
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