De acordo com a Vereadora do Desenvolvimento
Social da Câmara de Lisboa, Helena Roseta, a população sem abrigo em Lisboa "está a
aumentar", estimando-a em 2.000 pessoas.
"Está a verificar-se um aumento
significativo da população sem abrigo, por razões de desorganização das suas
vidas. Não tem só a ver com habitação, mas também por desemprego, problemas
familiares, adições, tudo misturado. Cada vez mais, mesmo por penúria
económica, incapacidade de pagar, e algumas pessoas fazem parte de uma pobreza
envergonhada", disse Helena Roseta sugerindo algumas propostas de
intervenção, designadamente a criação de uma estrutura de acolhimento que designa
por "hotel social". No ano passado a população sem abrigo rondaria as
700 a 800 pessoas.
Esta situação é conhecida. Em Março, a Directora
da Acção Social da Misericórdia de Lisboa afirmava que o perfil das pessoas sem
abrigo em Lisboa se tem vindo a alterar envolvendo pessoas mais jovens e sem
problemas de saúde mental ou toxicodependência, surgindo com progressiva
frequência casais ou famílias. Devido à reserva dos próprios e à instabilidade
da sua luta pela sobrevivência e que é difícil ter uma estimativa realista do
número de pessoas nesta situação. Aliás, essa dificuldade já se tinha
feito sentir com a realização dos Censos de 2011 cujo apuramento, peca, de
acordo com as instituições, por defeito.
Esta gente que vai caindo na rua não teve tempo
de se entusiasmar com a expectativa do regresso aos mercados e mostra de forma
muito evidente as suas características de resistência e os limites, o melhor
povo do mundo é assim, dando suporte ao modelo de Fernando Ulrich e tornando-se
alguns dos mais bem preparados cidadãos para os tempos que atravessamos, vivem
do nada.
Na verdade, não têm nada, aguentam tudo e só são
notícia quando chegam as vagas de frio ou quando aparecem gratos e contentes
naqueles jantares oferecidos no Natal que sempre compõem indecorosos
espectáculos mediáticos.
Continuam os tempos de chumbo, os tempos da
indignidade.
Por outro lado e voltando à dificuldade em
contabilizar o universo dos sem abrigo, apesar da tentativa de rigor e empenhamento
dos procedimentos, essa dificuldade decorre de várias razões como há algum
tempo escrevi.
São muitos, os sem abrigo num porto que os
acolha, uma casa, um espaço a que possam dar vida e que lhes apoie a vida, uma
família.
São muitos, os sem abrigo, mesmo em famílias e em
instituições.
São muitos, os sem abrigo no afecto, nos afectos,
sem um coração que os abrigue.
São muitos, os sem abrigo em mundos que não são
seus. São muitos, os sem abrigo em culturas que não entendem.
São muitos, os sem abrigo num corpo que seja
aconchego para o seu corpo.
São muitos, os sem abrigo em valores que
predominam mas não reconhecem.
São muitos, os sem abrigo em vidas que lhes não
pertencem mas carregam. São muitos, os sem abrigo no aceder e no gostar das
coisas de que a vida também se tece.
Muitos destes sem abrigo vivem à nossa beira, sem
abrigo, não contabilizados, nem contabilizáveis.
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