segunda-feira, 23 de junho de 2025

SÍNDROME PÓS-MINISTERIAL

 Há dias no DN e de acordo com um representante dos directores escolares no ano lectivo 24/25 refere-se que se verificou uma média semanal de 35000 docentes em falta. Entretanto, ainda não se sabe o resultado da há meses anunciada auditoria externa à consultora KPMG para encontrar o mágico número de alunos sem docente a todas as disciplinas. 

Há algum tempo, talvez por ignorância minha, escrevi que seria expectável que as direcções de escolas e agrupamentos tivessem dados seguros sobre a falta de docentes para os seus alunos. Nem me parece que para agregar estes dados fosse necessário um sistema altamente sofisticado.

A falta de docentes estava escrita nas estrelas e sucessivas equipas ministeriais, para além de más políticas públicas que afastaram milhares de professores das escolas negavam a evidência, ouvia-se o mantra dos “professores a mais”.

Apesar de não acompanhar suficientemente de perto a situação noutros países para ter uma perspectiva comparativa, em Portugal parece existir uma espécie de síndrome que afecta a classe política com experiência de poder. Esta síndrome, a que poderemos chamar "pós-ministerial" ou, dito de outra maneira, “sei muito bem o que deveria ser feito, mas quando fui ministro(a) não soube ou não foi possível”, é patente em muitíssimos ex-governantes oriundos dos partidos que já assumiram responsabilidades de governo em diferentes áreas.

O que me parece curioso nestas circunstâncias é que diferentes protagonistas com responsabilidade pelas políticas educativas apresentam sempre uma visão clara sobre os males e constrangimentos da área sectorial em que exerceram funções políticas, no caso a educação, bem como, propostas de desenvolvimento e correcção visando a desejável qualidade e o progresso, depois de terem passado por funções ministeriais nesse mesmo sector.

A pergunta, certamente estúpida e demasiado óbvia, que me ocorre face a este tipo de discursos é “então porque não fez, porque não defendeu assertivamente as ideias agora expressas, muitas a merecer concordância, quando teve poder para tal?” Podemos, com alguma habilidade, tentar encontrar respostas e acabaremos, creio, por colocar duas hipóteses básicas, não puderam ou não souberam, qual delas a mais animadora.

Na primeira, não puderam, implica questionar qual o poder que efectivamente o ministro detém relativamente às políticas do sector que tutela, ou seja, qual o verdadeiro nível de responsabilidade de quem assume o poder e as dificuldades para ultrapassar e gerir as corporações de interesses ameaçadas por eventuais mudanças. Na segunda, não souberam, sugere que a competência não abundará o que não me parece menos inquietante.

Em todo o caso, algum pudor e a humildade de nos explicarem porque não executaram as políticas que posteriormente aparecem a defender seriam esclarecedoras e um bom serviço prestado à causa pública.

A questão é que muitos destes discursos que se apresentam como parte da solução, na verdade, são, foram, parte do problema.

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