Há dias no DN e de acordo com um representante dos directores escolares no ano lectivo 24/25 refere-se que se verificou uma média semanal de 35000 docentes em falta. Entretanto, ainda não se sabe o resultado da há meses anunciada auditoria externa à consultora KPMG para encontrar o mágico número de alunos sem docente a todas as disciplinas.
Há algum tempo, talvez por
ignorância minha, escrevi que seria expectável que as direcções de escolas e
agrupamentos tivessem dados seguros sobre a falta de docentes para os seus
alunos. Nem me parece que para agregar estes dados fosse necessário um sistema
altamente sofisticado.
A falta de docentes estava
escrita nas estrelas e sucessivas equipas ministeriais, para além de más
políticas públicas que afastaram milhares de professores das escolas negavam a
evidência, ouvia-se o mantra dos “professores a mais”.
Apesar de não acompanhar suficientemente
de perto a situação noutros países para ter uma perspectiva comparativa, em Portugal parece existir uma espécie de síndrome que afecta a classe
política com experiência de poder. Esta síndrome, a que poderemos chamar
"pós-ministerial" ou, dito de outra maneira, “sei muito bem o que
deveria ser feito, mas quando fui ministro(a) não soube ou não foi possível”, é
patente em muitíssimos ex-governantes oriundos dos partidos que já assumiram
responsabilidades de governo em diferentes áreas.
O que me parece curioso nestas
circunstâncias é que diferentes protagonistas com responsabilidade pelas
políticas educativas apresentam sempre uma visão clara sobre os males e
constrangimentos da área sectorial em que exerceram funções políticas, no caso
a educação, bem como, propostas de desenvolvimento e correcção visando a
desejável qualidade e o progresso, depois de terem passado por funções
ministeriais nesse mesmo sector.
A pergunta, certamente estúpida e
demasiado óbvia, que me ocorre face a este tipo de discursos é “então porque
não fez, porque não defendeu assertivamente as ideias agora expressas, muitas a
merecer concordância, quando teve poder para tal?” Podemos, com alguma
habilidade, tentar encontrar respostas e acabaremos, creio, por colocar duas
hipóteses básicas, não puderam ou não souberam, qual delas a mais animadora.
Na primeira, não puderam, implica
questionar qual o poder que efectivamente o ministro detém relativamente às
políticas do sector que tutela, ou seja, qual o verdadeiro nível de
responsabilidade de quem assume o poder e as dificuldades para ultrapassar e
gerir as corporações de interesses ameaçadas por eventuais mudanças. Na
segunda, não souberam, sugere que a competência não abundará o que não me
parece menos inquietante.
Em todo o caso, algum pudor e a
humildade de nos explicarem porque não executaram as políticas que
posteriormente aparecem a defender seriam esclarecedoras e um bom serviço prestado à
causa pública.
A questão é que muitos destes
discursos que se apresentam como parte da solução, na verdade, são, foram,
parte do problema.
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