Cavaco Silva, na constituição pública do Conselho
da Diáspora Portuguesa, afirmou acreditar nas potencialidades das comunidades
portuguesas como “agentes” do “reforço da reputação, do prestígio e
credibilidade de Portugal”. Também acredito e acho mesmo que deste ponto de
vista ainda bem que não é boa parte da classe política a emigrar, senão
reputação, prestígio, credibilidade … já eram.
Também hoje o I refere com chamada a 1ª página
que desde 1998 mais de um milhão de portugueses emigrou sendo que em 2011 se
estima, fonte da Secretaria de Estado das Comunidades, que mais de 100 000
portugueses tenham partido, esperando-se que em 2012 o número suba. Acresce que
a par da Irlanda, somos o país de onde sai gente com maior qualificação o que é
ainda mais preocupante.
Somos um país de emigrantes de há séculos pelo
que este movimento, só por si, não será de estranhar. No entanto, creio que é
preocupante constatarmos que durante muitos anos a emigração se realizava na
busca de melhores condições de vida, a agora a emigração realiza-se à procura
da própria vida, muita gente, sobretudo jovens não tem condições de vida, tem
nada e parte à procura, não de melhor, mas de qualquer coisa.
Este vazio que aqui se sente é angustiante,
sobretudo para quem está começar, se sente qualificado e com o desejo de
construção de um projecto de vida viável e bem sucedido.
Alguns inquéritos junto de estudantes
universitários mostram como muitos, a maioria, admite emigrar em busca de
melhores condições de realização pessoal e profissional apesar de muitos
afirmarem que pretendem voltar.
Lembramo-nos ainda da intervenção do Ministro
Miguel Relvas, que certamente não precisaria de emigrar, tem o seu futuro garantido
dentro de portas por efeitos do alpinismo partidário, ao afirmar, dirigindo-se
a jovens qualificados, "ide procurar fora de portas o vosso futuro”.
Parece-me relativamente claro que a questão
central nesta matéria não é o movimento que desde há muito os portugueses
realizam de procurar trabalho fora do país, trata-se também da construção de um
projecto de vida auto-determinado. Sabemos, aliás, que é desejável em
diferentes perspectivas, que estes fluxos se realizem.
O que me parece fortemente significativo é o que
representa de descrença de tanta gente, de que seja possível desenvolver um
projecto de vida viável e com potencial de realização pessoal e profissional no
nosso país.
Nesto contexto, como tenho referido, as
declarações dos responsáveis políticos assumem particular importância. Não
podem assumir que a solução para os problemas das pessoas, por exemplo o
desemprego, é abandonar o país, particularmente um país, Portugal, com sérias
necessidades de mão-de-obra qualificada, um dos mais baixos níveis de
qualificação da Europa e um dos grandes obstáculos ao nosso desenvolvimento,
não pode acenar com a “sugestão” de emigração exactamente para a franja mais
qualificada da nossa população. Trata-se uma visão absolutamente inaceitável.
Será previsível que muitos destes emigrantes se
juntem a outros velhos emigrantes e prestigiem Portugal como afirma Cavaco
Silva. Beneficiamos todos com isso.
No entanto, muita desta gente parte com amargura
de uma terra, a sua, onde sentem que não cabem e o futuro … é um sonho
impossível.
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