Segundo o Público os professores lideram entre os
funcionários da administração pública a passagem à aposentação. Reformaram-se este
ano cerca de 3500 docentes e em Janeiro mais 600 se seguirão.
Esta situação, que muita gente relativiza não só às
alterações salariais e económicas mas também ao clima de desânimo que se tem
vindo a instalar nas escolas, fruto de políticas que têm mais de contabilísticas
que de educativas, recorda-me um estudo realizado no Porto envolvendo
professores que mostrou que a maioria dos inquiridos revelava uma enorme
dificuldade em desligar-se dos problemas de natureza profissional mesmo quando
está fora da escola, em casa, por exemplo.
Não me lembro dos contornos específicos do
estudo, mas os seus resultados inscrevem-se no conhecimento já adquirido de que
a profissão docente é uma das mais sujeitas a stress como, aliás, o são todas
as que envolvem interacção social agudizando-se quando o contacto envolve
tensão ou sofrimento, daí o stress em docentes e em pessoal da área da saúde.
Esta expressa dificuldade dos professores em se
abstrair dos problemas de natureza profissional, recorda-me sempre algo que
ouvi já há alguns anos a um professor velho que quando comentei que a situação
de reforma lhe dava descanso, se riu e disse que “professores e pais nunca se
reformam ou vão de férias”.
Embora com uma pontinha de excesso que se
desculpa, a dimensão ética e afectiva das funções, para além das questões
profissionais no caso dos professores, é tão significativa que dificilmente se
consegue “escapar” ainda que transitoriamente, e muito menos definitivamente, à
condição de pai ou de professor.
É bom de ver que este quadro está naturalmente
mais presente nos bons professores, a esmagadora maioria. Os bons professores,
tal como os pais, têm sempre os alunos, os filhos, “perto” de si, ou seja, não
lhes é fácil libertarem-se da inquietação que sentem com o bem-estar dos miúdos
e com a qualidade do trabalho.
Em situações informais em que algum ou alguns
professores estejam presentes é muito frequente que a conversa, mais ou menos
rapidamente, se direccione para as questões da vida dos miúdos e da escola.
Não raramente, este envolvimento de muitos professores,
horas extraordinárias por assim dizer, tem implicações na sua vida pessoal e
familiar que muitos entendem ser “ossos do ofício” e ajudam a explicar os
resultados do estudo agora divulgado.
O Professor Velho tem mesmo razão, os professores
e os pais não se reformam nem vão de férias, estão sempre a tempo inteiro.
Muita desta gente que agora está a sair da
escola, muitos dos quais a contragosto, na verdade não vai mesmo reformar-se da
sua condição de professores, serão sempre professores, obrigado por isso.
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