No Público encontra-se um trabalho interessante
sobre a hipótese de que os tempos difíceis que atravessamos possam promover uma
aproximação das pessoas aos cultos religiosos. Alguns especialistas referidos
no trabalho sugerem prudência nessa análise, embora não contestem a
possibilidade desse movimento.
A leitura recordou-me que nos meus tempos de
miúdo escutava com alguma frequência uma frase que actualmente, de quando em
vez, me vem à memória. Estou a referir-me à expressão “ao Deus dará”. Embora
não constituíssemos uma família de fortes convicções religiosas, esta expressão
era empregue lá em casa quando alguém, por qualquer razão, ficava em situação
vulnerável ou fragilizada, entregue a si mesmo, sem ninguém por perto que
pudesse ajudar ou apoiar.
Hoje em dia e com origem em múltiplas razões, por
exemplo, económicas, sociais e culturais, mudanças nos sistemas de valores,
circunstâncias pessoais, etc., parece que cada vez mais gente anda por aí “ao
Deus dará”.
A questão que mais me preocupa é que, sem querer
ferir eventuais sensibilidades, não acredito que “Deus dê”. Por isso, ou
assumimos de vez a importância de conjugar desenvolvimento económico com
políticas sociais, a importância de conjugar prosperidade e realização
individual com a retoma de valores de solidariedade e entreajuda comunitária, a
importância de conjugar globalização com pessoas, ou corremos o sério risco de
cada vez mais gente andar “ao Deus dará” sem esperança, sem sonho, sem vida.
2 comentários:
Reflexão simples, mas muito interessante!
Oxalá "os tempos difíceis que atravessamos possam promover uma aproximação das pessoas aos cultos religiosos", sobretudo no que a determinadas máximas diz respeito, das quais saliento uma que a minha avó usava muito e que não me canso de relembrar, como uma espécie de sinédoque para esperança: "Deus escreve direito por linhas tortas".
Espero que não leve a mal, mas relacionei a sua reflexão, que aplaudi, com um post de Paulo Prudêncio e partilhei-a no Correntes.
http://correntes.blogs.sapo.pt/1588188.html
Olá Ana, em situação de crise a aproximação a convicções religiosas pode ser um despertar dos "pensamentos mágicos" em nós adormecidos desde miúdos. Tudo bem com a partilha, eu é que agradeço
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