Já não vai sendo fácil contabilizar as afirmações
de governantes que, a propósito das mais variadas situações, quase sempre de
dimensões de mal-estar e fragilidade na vida das pessoas, são de uma insensatez
e insensibilidade notáveis e graves, bem entendido.
O Secretário de Estado Adjunto da Saúde, Leal da
Costa, é um bom exemplo de como é útil e inteligente pensar antes de falar.
Lembram-se certamente das suas afirmações de há meses sobre o não financiamento
de terapias para o cancro de “eficácia duvidosa”. Pensei que se referiria à actividade
de “curandeiros” mas o Secretário de Estado precisou tratar-se de considerar se
se devem realizar actos médicos, cirurgias por exemplo, que apenas prolonguem a
vida dos doentes por pouco tempo, assim mesmo, seria mais eficaz e, sobretudo
barato, deixar morrer logo, seria só poupança. Ainda no campo da saúde recordo
ainda a famosa intervenção de Manuela Ferreira Leite sustentando que as pessoas
com mais de 70 anos deveriam suportar elas os custos da hemodiálise, os velhos
são uma carga inútil para o SNS, uma outra pérola do mais fino recorte
científico, moral e ético.
A afirmação do Secretário de Estado foi
fortemente contestada quer pelo Bastonário da Ordem dos Médicos quer por
elementos de Associações de doentes como não podia deixar de ser.
Hoje, o Secretário de Estado Leal da Costa voltou
ao palco. Afirmou que se utilizarmos o SNS este deixará de ser sustentável. Não
basta pagar impostos, uma carga brutal de impostos, para que ele se sustente. Afirma
que temos de recorrer menos vezes aos serviços Temos de o usar menos vezes e
temos que aumentar a prevenção para não ficarmos doentes.
Como é evidente ninguém discordará da importância
da prevenção pelo que o próprio Ministério da Saúde deveria apostar fortemente
na prevenção mas colocando a questão nestes termos. Ninguém adoece porque quer
e deveríamos assumir comportamentos mais saudáveis em nome do bem-estar sendo a
poupança na saúde a consequência e não o objectivo.
Será que esta gente não consegue entender que os
problemas das pessoas devem ser abordados com, no mínimo, respeito pela sua
dignidade?
Sabemos que os tempos não estão fáceis e que
exigem contenção. Mas sabemos, sentimos, que boa parte das políticas, sendo
amigas do défice, ainda assim sem grande resultado ao que se conhece, sendo
amigas dos mercados, são inimigas das pessoas, fazem mal às pessoas, mesmo
algumas das políticas de saúde.
A questão é que os líderes políticos, os que
verdadeiramente são líderes, apesar de não possuírem, felizmente, o dom da
infalibilidade e da perfeição, não podem, não devem proferir determinadas
palavras e persistirem teimosamente na sua afirmação.
São palavras mal ditas.
A afirmação do burocrata Leal da Costa, ao que
parece médico(!), é apenas mais uma daquelas que são proibidas e que numa terra
de líderes políticos com espinha, exigiria, pelo menos, um pedido de desculpas.
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