A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, APAV, veio
hoje divulgar um seu trabalho alertando para os maus tratos e violência
dirigidos a velhos que muitas vezes ficam sem denúncia o que, aliás, acontece
também com situações de violência doméstica e de maus tratos a crianças.
Na verdade, com alguma regularidade vêm sendo
noticiadas situações de maus tratos a idosos, de natureza diferenciada, perpetrados
por familiares, um exemplo das alterações significativas dos modelos de
relacionamento social, sobretudo no que pode considerar-se como a percepção de
traços de autoridade que inibem ou regulam comportamentos.
Há algum tempo, a imprensa referia que a linha
telefónica do Cidadão Idoso da Provedoria de Justiça recebeu 2142 chamadas
durante 2011. Destas chamadas, cerca de seis por cento estavam relacionadas com
maus-tratos.
Também há alguns meses, um relatório da OMS
identificava Portugal como um dos cinco países europeus, entre 53, em que os
velhos sofrem mais maus-tratos. Cerca de 39,4% dos velhos sofrem alguma forma
de maus-tratos, que envolvem, por exemplo. extorsão, abuso psicológico, físico
ou negligência.
Quer no seio das famílias, quer em instituições
para onde alguns velhos são enviados compulsivamente como denuncia a APAV,
algumas encerradas por determinação legal, tal é a gravidade das situações,
multiplicam-se as referências à forma inaceitável como os velhos estão a ser
tratados.
Começam por ser desconsiderados pelo sistema de
segurança social que com pensões miseráveis, transforma os velhos em pobres,
dependentes e envolvidos numa luta diária pela sobrevivência.
Continua com um sistema de saúde que deixa muitos
milhares de velhos dependentes de medicação e apoio sem médico de família.
Em muitas circunstâncias, as famílias, seja pelos
valores, seja pelas suas próprias dificuldades ou alterações nos estilos de
vida, não se constituem como um porto de abrigo, sendo parte significativa do
problema e não da solução. As situações muito complicadas em que milhares de
famílias estão envolvidas com o retornar de várias gerações à mesma casa e a
tentação de aproveitar os baixos rendimentos dos velhos potenciam o risco de
maus tratos.
Finalmente, as instituições, muitas delas,
subordinam-se ao lucro e escudam-se numa insuficiente fiscalização além de que,
com frequência, os equipamentos de qualidade são inacessíveis aos rendimentos
de boa parte dos nossos velhos.
Lamentavelmente, boa parte dos velhos, sofreu
para chegar a velho e sofre a velhice.
Não é um fim bonito para nenhuma narrativa.
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