O Tribunal de Contas veio ao fim de sete anos
questionar a legalidade da inaceitável continuidade das subvenções vitalícias e
dos subsídios de reintegração pagos aos ex-deputados da Assembleia Legislativa da
Madeira quando tal regalia foi abolida há sete anos e respeitada nos Açores e
no Parlamento da República.
Se isto acontecesse num qualquer país a sério
seria de espantar, quer a posição tardia do Tribunal de Contas, quer a
delinquente situação decida e mantida pela rapaziada que segue o inimputável e
grotesco Alberto João que acumula prebendas e regalias numa comunidade
mergulhada em dificuldades e pobreza.
Num país a sério também seria estranho que sucessivos
governos e a Presidência da República fossem assumindo por negligência ou calculismo
político próprios da partidocracia, uma conivência criminosa com estes
desmandos.
Eu sei, a situação é velha, que a rapaziada que
nos parasita a todos se encosta a umas interpretações manhosas das leis que eles
próprios fazem ou encomendam quando lhes falta o engenho e arte para tal
tarefa. Também não estranho, o povo costuma dizer que "quem parte e
reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não tem arte". E arte
para estas coisas sobra a esta gente, são mesmo uns verdadeiros artistas.
Como é evidente, ninguém minimamente conhecedor
da realidade esperaria outro funcionamento, estamos demasiado habituados a que
a esperteza e a manha que alimenta relvismos, felgueirismos, isaltinismos,
loureirismos ou jardinismos desta natureza permitam que sejam realizados sempre
no estrito "cumprimento da lei". Tornam-se no que eu costumo designar
por fraudes legais.
O que incomoda é justamente a convicção de que
parece impossível contrariar esta torrente que consegue levar o despudor, a
arrogância e a delinquência ética a patamares de excelência que julgávamos já
terem sido ter atingido por outras correntes do pensamento e comportamento
políticos mais recentes ou mais antigos.
Na verdade, preocupa-me aquilo a que
habitualmente chamo a pegada ética, isso mesmo, pegada ética. Os comportamentos
e valores que genericamente mobilizamos têm, obviamente, uma consequência na
qualidade ética da nossa vida que não é despicienda. Os maus-tratos e
negligência que dedicamos aos princípios éticos mais substantivos provocam um
empobrecimento e degradação do ambiente e da qualidade de vida das quais cada
vez parece mais difícil recuperar.
Mas talvez esta feitoria já não seja mesmo um país a sério.
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