No Hospital Amadora-Sintra, uma das maiores
maternidades do país, durante 2012 ficaram “retidos” 25 bebés por ordem dos
tribunais e por “motivos sociais” que decorrem das condições de vida das suas
famílias.
Os motivos para tal situação serão múltiplos,
incluindo o efeito devastador do conjunto de dificuldades que muitas
famílias enfrentam.
Estas crianças começam desde a nascença a sofrer
de rejeição ou incapacidade de acolhimento familiar, um enorme factor de risco
para uma vida que está apenas a iniciar-se. Esperemos que encontrem uma outra
estrada que as leve ao futuro.
São geradas em famílias que não sabem, não querem
ou não podem adoptá-las. Sim adoptá-las. Quando penso nestas situações,
lembro-me sempre de uma expressão que ouvi já há algum tempo a Laborinho Lúcio
num dos encontros que tenho tido o privilégio de manter com ele. Afirma então
Laborinho Lúcio que "só as crianças adoptadas são felizes, felizmente a
maioria das crianças são adoptadas pelos seus pais”. Na verdade, muitas
crianças não chegam a ser adoptadas pelos seus pais, crescem sós e abandonadas.
Estas não chegam a poder ser adoptadas pelos seus
pais.
No entanto, por estranho que possa parecer,
existe uma outra realidade, menos perceptível em termos globais, mas conhecida
por aqueles que lidam de mais perto com as crianças e que remete para a
quantidade enorme de situações de crianças abandonadas e rejeitadas dentro das
famílias, algumas em famílias com um funcionamento aparentemente normal.
Pode parecer surpreendente esta abordagem, mas
muitas crianças vivem em famílias, diferentes tipos de família, que, por
variadíssimas razões, as não desejam, as não amam, apenas as toleram, cuidam,
pior ou melhor, sobretudo nos aspectos "logísticos". Em alguns casos,
são mesmo crianças a que "não falta nada", dizem-nos. Na verdade
falta-lhes o essencial, o abrigo de uma família.
Existem mais crianças a viver narrativas desta
natureza, abandonadas e ou rejeitadas dentro da família, do que se pode
imaginar.
Sem comentários:
Enviar um comentário