Diferentes títulos da comunicação social chamam
hoje a atenção para a situação extremamente grave que se vive no universo da
saúde, com cerca de 21 hospitais em falência técnica, medicamentos para doenças
crónicas não disponibilizados nas farmácias hospitalares, adiamento de cirurgias,
atrasos excessivas nas listas de espera, não pagamento por parte do estado de
consultas realizadas, por exemplo no IPO do Porto, etc. Acresce que este tipo
de relatos é demasiado frequente para não levantar uma enorme preocupação.
No entanto, por mais que nos incomode e preocupe,
creio que não consegue surpreender-nos. A área da saúde foi identificada como
uma das que mais cortes no orçamento para 2012. Estes cortes têm atingido
diferentes áreas da prestação dos cuidados de saúde e certamente assim
continuará para 2013 como repetidamente tem sido anunciado pelo Governo que
identifica a saúde, tal como educação e segurança social como as áreas a
"privilegiar" para os cortes dos "mágicos" 4 000 milhões de
euros.
A preocupação com a doença, sobretudo numa
população envelhecida, está permanentemente na cabeça das pessoas e,
naturalmente, não estou a falar de hipocondria. Se a este peso acrescer o facto
de que não terem um médico de família acessível, que conheçam, que as conheça e
com quem, desejavelmente, mantêm uma relação de confiança as pessoas sentem-se
fortemente vulneráveis e impotentes. Acresce que muitas destas pessoas não
terão grandes possibilidades de recurso a serviços privados.
Ainda não há muito tempo o Director da Escola Nacional
de Saúde Pública referia o risco de se verificarem situações de ausência de
consulta ou tratamento por falta de condições financeiras, quer no que respeita
aos serviços, quer por dificuldades das próprias pessoas. A realidade que vamos
conhecendo ilustra isso mesmo, de forma dramática.
Em segundo lugar, quando tanto se fala no estado
social, nos limites desse estado, a privatização de serviços, por exemplo na
saúde, é fundamental perceber e entender que a comunidade tem sempre a
responsabilidade ética de garantir a acessibilidade de toda a gente aos
cuidados básicos de saúde. Os tempos que atravessamos criando obstáculos ao
acesso aos serviços de saúde são ameaçadores. Também vários especialistas em
saúde pública alertaram para a relação entre as circunstâncias difíceis que
atravessamos e o aumento atípico de óbitos nas últimas semanas atingindo
sobretudo idosos e não explicados unicamente pelos factores habituais.
Como afirma Michael Marmot, que há meses esteve em
Portugal, todas as políticas podem, ou devem, ser avaliadas pelos seus impactos
na saúde.
Talvez a ideia do "custe o que custar"
seja de repensar, pela nossa saúde.
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