sábado, 15 de dezembro de 2012

DA SOBERANIA À FEITORIA

Uma das referências mais presentes na comunicação social ontem hoje é a informação de que o Governo irá apresentar à Troika uma proposta de aumento do salário mínimo nacional.
Apesar desta nota ser certamente disparatada e romântica, terão a generosidade de a desculpar, acho impossível ler isto sem um sobressalto. O Governo de um país soberano vai fazer uma proposta a um grupo de burocratas estrangeiros para saber se será “autorizado” a aumentar o salário mínimo nacional, sublinho, nacional. É a entrega da soberania aos feitores. Vai na linha do que tem sido a política governativa mas continua a causar-me um profundo desconforto.
É verdade que estamos a vender a grupos económicos estrangeiros, creio que a preços convidativos, muitas das empresas estratégicas e essenciais em políticas soberanas. Os exemplos são múltiplos e estão vários negócios em curso como a RTP, ANA e TAP, só a título de exemplo. Este processo vai alienando tudo o que representa a sua soberania, entregando algumas empresas que são representativas e úteis aos interesses nacionais, não é por acaso que se designam por empresas de “bandeira”, a um mercado voraz e que se instala comendo a carne e deixando os ossos, é um caminho que inquieta.
Sabemos todos que o dinheiro não tem pátria, o mercado não tem alma nem ética e que o resto, o resto … é a economia, estúpido.
Neste quadro, ouvir o Governo afirmar que vai pedir autorização à Troika para aumentar o salário mínimo e que duvida dessa autorização é assumir com toda a clareza e tranquilidade este caminho que nos tem levado da soberania sobre o que era nosso e sobre as decisões que nos respeitam à feitoria sobre o que passa a não ser nosso exercida por um conjunto de feitores sem mandato para tal função.
Na verdade, “a soberania é uma treta” como afirmava em entrevista ao I no início de Setembro passado, Miguel Beleza, um dos muitos e iluminados economistas que peroram sobre a nossa desgraça.

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