Há alguns dias e porque o passar dos anos obriga
a estar atento ao corpo e à sua revisão anual, passei algum tempo na sala de
espera de um centro de saúde o que é sempre uma experiência interessante e
estimulante.
Durante o tempo de espera, razoável, deve
dizer-se, as conversas, ainda que variando de tema, tinham quase sempre os
mesmos protagonistas, eles.
Os "eles", também conhecidos na versão
mais popular por "os gajos", são uma entidade indefinida que nós
portugueses elegemos como fonte e responsáveis de tudo e por tudo o que de
menos bom nos acontece.
Esperamos tanto tempo pelos exames ou por
consultas porque eles não dão condições nenhumas, falta tudo.
A vida está difícil porque eles não pensam no
povo, eles estão lá é para se encher. Eles, fazem o que querem e a gente é que se trama.
Quando pela janela se viram cair algumas fortes
bátegas de chuva alguém comentou, eles dão cabo do clima e depois é o que dá.
Que me lembre, ainda percebi que eles, os gajos,
também têm responsabilidade sobre os transportes que não chegam e são caros, os
assaltos que não páram e é um horror e o preço do peixe que está pela hora da
morte.
Bom, finalmente chamaram-me para os exames. Antes
de sair ainda ouvi que quem devia estar ali à espera eram eles, os gajos, não
fazem nada, têm tempo para esperar.
Eles, os gajos, os outros, são assim.
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