Como vai sendo frequente, cada vez que ocorre uma
tragédia que nos deixa perplexos como a do mais recente episódio nua escola primária
americana procuram-se razões para tal monstruosidade. No caso particular dos
EUA as atenções voltam-se para a sua peculiar cultura sobre o uso e facilidade
no acesso a armas e também, como noutras paragens perante episódios da mesma
natureza para o papel potencial que os vídeojogos podem ter nestes
comportamentos ultraviolentos de algumas pessoas, sobretudo jovens, que, na
verdade, também com regularidade, evidenciam ser fortes consumidores de tal
produto. Como também é habitual surgem posições com sinal contrário.
Uns opinam que os estudos sugerem riscos no uso
excessivo destes materiais, recordo uma conferência há algum tempo realizada no
ISCTE por Bruce D. Bartholow. Por outro lado, alguns socorrem-se de estudos que
não encontram nenhuma relação de causa efeito entre o consumo de vídeojogos
violentos e o desencadear de comportamentos de extrema violência, sendo ainda
que existe quem defenda, em abstracto, o potencial educativo dos vídeojogos.
Sobre este último ponto recordo um Relatório de 2009 do Parlamento Europeu
coordenado por Toine Manders em que se afirmava, curiosamente, que os
resultados “contradizem muitos estudos que sublinham a dependência e a
violência que os videojogos podem provocar nos mais pequenos, deixando alguns
pais mais tranquilos” e, citando o próprio relatório, os vídeojogos estimulam
“a aprendizagem de factos e habilidades como a reflexão estratégica, a
criatividade, a cooperação e o sentido de inovação”. O relatório também referia,
no entanto, que alguns vídeojogos podem não ser apropriados.
Julgo que se trata de uma matéria em que, por
estranho que pareça, todos podem ter razão, ou seja, em muitas crianças,
adolescentes ou adultos, comportamentos de enorme violência aparecem ligados ao
consumo de vídeojogos violentos mas nem todos os miúdos adolescentes ou jovens
que os consomem desenvolvem comportamentos de violência, daí a inexistência de
uma relação de causa-efeito.
A questão, do meu ponto de vista, não é sobre se
os videojogos fazem mal, é a falta de qualidade e os conteúdos altamente violentos
e desadequados às crianças de muitos destes produtos que lhes estão acessíveis.
Muitos de nós, especialistas ou não, inquietam-se com o tempo excessivo que
muitas crianças e adolescentes passam sós, agarradas a um ecrã, numa espécie de
teledependência pouco positiva. Esta preocupação não tem nada a ver com um
entendimento definitivo de que os vídeojogos fazem mal. Existem excelentes
vídeojogos que, naturalmente, serão úteis e positivos na vida dos miúdos.
Uma outra questão, é o espaço que estes produtos
ocupam na vida dos miúdos. Segundo alguns estudos, perto de 50% das crianças
até aos 15 anos terão computador ou televisor no quarto, além do telemóvel.
Acontece que durante o período de sono e sem regulação familiar muitas crianças
e adolescentes estarão diante de um ecrã, pc, tv ou telemóvel. Com é óbvio,
este comportamento não pode deixar de implicar consequências nos comportamentos
durante o dia, sonolência e distracção, ansiedade e, naturalmente, o risco de
falta de rendimento escolar num quadro geral de pior qualidade de vida.
Comer faz bem às crianças, mas comer
excessivamente e produtos de má qualidade, provoca sérios problemas de saúde.
Que se eduque o consumo, sem se diabolizar ou exaltar disparatadamente o
produto.
Estas matérias, a presença das novas tecnologias
na vida dos mais novos, são problemas novos para muitos pais, eles próprios com
níveis baixos de alfabetização informática. Considerando as implicações sérias
na vida diária importa que se reflicta sobre a atenção e ajuda destinada aos
pais para que a utilização imprescindível seja regulada e protectora da
qualidade de vida das crianças e adolescentes.
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