terça-feira, 25 de dezembro de 2012

DE PIN EM PIN ATE À DESTRUIÇÃO FINAL

Depois de termos o litoral algarvio praticamente destruído e betonizado em nome de uma massificação turística de má qualidade que passou como um rolo compressor por boa parte da costa, e que actualmente tem milhares de camas sem procura, parece ter chegado a vez de destruir a parte do Algarve que se mantinha bonita e íntegra, o barrocal e a serra.
Apesar de todas as questões e reservas de natureza ambiental, da sua integração na Rede Natura, o Governo atribui o estatuto de Projecto de Interesse Nacional a uma zona situada no concelho de Loulé com a óbvia concordância do município em nome do desenvolvimento, justificação suficiente para boa parte da destruição realizada em Portugal nas últimas décadas. Como também seria previsível, estamos em Portugal, os interesses envolvidos no Projecto são estrangeiros, no caso árabes do Kwait ,onde há semanas o incansável Dr. Portas esteve a defender o interesse nacional.
Eu sei, não tenho nenhuma visão fundamentalista, do peso económico que a actividade turística tem em Portugal e de como deve ser cuidada essa importância. No entanto, creio que corremos o sério risco de como diz o povo "matar a galinha dos ovos de ouro" por mal cuidarmos da qualidade da oferta criada e da destruição de uma parte do país com custos que a prazo podem revelar-se pesados.
Apesar de ainda há pouco tempo o Algarve  ter sido considerado o melhor destino europeu para praia e Portugal o melhor destino para golfe, este caminho deixa uma sensação de amargura quando penso na vida actual da maioria dos portugueses e no que parece ser o seu futuro. Lembrei-me de muitos outros "destinos" a que muitos de nós se deslocam e encontram "ilhas" de bem-estar e luxo cercadas por um oceano de pobreza, de que se livram a elite do costume e a meia dúzia que subservientemente serve os "turistas" e torna a sua estadia "fantástica", numa terra "fantástica" que, nas mais das vezes, nem visitam, não saindo dos "resorts" "fantásticos para não "ver misérias". Ah, claro, também achamos que as pessoas desses "destinos" são "fantásticas", mesmo simpáticas.
Talvez seja esse o nosso destino, como alguns defendem, a Flórida da Europa, "destino" muito interessante para visitar, mas pouco atractivo para viver.
Com um lema SPA – Portugal (Simpatia, Profissionalismo,Atenção) ninguém nos bateria como destino turístico e não só no ALL Garve. Vejam. Com a introdução do inglês no 1º ciclo extraordinariamente bem-sucedida, a comunicação com estrangeiros já não é um obstáculo. Com o sucesso das Novas Oportunidades, os portugueses profissionalizaram-se e o tempo do pano às costas e um palito na boca nos serviços de restauração acabou. Tudo quanto é paisagem interessante passa a PIN (Projecto de Interesse Nacional) e, consequentemente, transformam-se em resorts fantásticos e campos de golfe fantásticos em cada distrito, concelho ou freguesia ou bocadinho de praia ou campo ainda não destruídos.
Ao mesmo tempo, cada turista passa, ele próprio, a ser também um PIN (Projecto de Interesse Nacional) daí o ser tratado com Atenção. Temos pobres e zonas degradadas que poderão dar um ar de exotismo permitindo excelentes fotografias em safaris especializados, um nicho de mercado com muitos clientes que depois mostram aos amigos as fotografias que tiraram aos indígenas, até com algum risco, convém dizer para impressionar. Temos o Special One, o CR7 para além do fado e do vinho do Porto que espelham a nossa qualidade.
Por fim, somos respeitadores e bem comportados com os estrangeiros, especialmente com os que cá metem dinheiro, e ainda temos uma polícia de costumes a ASAE de uma eficácia inultrapassável que zelará pela qualidade de vida de turistas e empregados, nós.
 
PS – Temos uns políticos assim para o fraquinho mas podemos prometer que não os deixamos incomodar os turistas, nós já estamos habituados. Pede-se à ASAE uma ajuda.

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