Depois de termos o litoral algarvio praticamente
destruído e betonizado em nome de uma massificação turística de má qualidade que
passou como um rolo compressor por boa parte da costa, e que actualmente tem
milhares de camas sem procura, parece ter chegado a vez de destruir a parte do
Algarve que se mantinha bonita e íntegra, o
barrocal e a serra.
Apesar de todas as questões e reservas de natureza ambiental, da sua
integração na Rede Natura, o Governo atribui o estatuto de Projecto de
Interesse Nacional a uma zona situada no concelho de Loulé com a óbvia
concordância do município em nome do desenvolvimento, justificação suficiente
para boa parte da destruição realizada em Portugal nas últimas décadas. Como
também seria previsível, estamos em Portugal, os interesses envolvidos no Projecto
são estrangeiros, no caso árabes do Kwait ,onde há semanas o incansável Dr.
Portas esteve a defender o interesse nacional.
Eu sei, não tenho nenhuma visão fundamentalista,
do peso económico que a actividade turística tem em Portugal e de como deve ser
cuidada essa importância. No entanto, creio que corremos o sério risco de como
diz o povo "matar a galinha dos ovos de ouro" por mal cuidarmos da
qualidade da oferta criada e da destruição de uma parte do país com custos que
a prazo podem revelar-se pesados.
Apesar de ainda há pouco tempo o Algarve ter sido considerado o melhor destino europeu
para praia e Portugal o melhor destino para golfe, este caminho deixa uma sensação de
amargura quando penso na vida actual da maioria dos portugueses e no que parece
ser o seu futuro. Lembrei-me de muitos outros "destinos" a que muitos
de nós se deslocam e encontram "ilhas" de bem-estar e luxo cercadas
por um oceano de pobreza, de que se livram a elite do costume e a meia dúzia
que subservientemente serve os "turistas" e torna a sua estadia
"fantástica", numa terra "fantástica" que, nas mais das
vezes, nem visitam, não saindo dos "resorts" "fantásticos para não
"ver misérias". Ah, claro, também achamos que as pessoas desses
"destinos" são "fantásticas", mesmo simpáticas.
Talvez seja esse o nosso destino, como alguns
defendem, a Flórida da Europa, "destino" muito interessante para
visitar, mas pouco atractivo para viver.
Com um lema SPA – Portugal (Simpatia, Profissionalismo,Atenção) ninguém nos bateria como
destino turístico e não só no ALL Garve. Vejam. Com a introdução do inglês no
1º ciclo extraordinariamente bem-sucedida, a comunicação com estrangeiros já não
é um obstáculo. Com o sucesso das Novas Oportunidades, os portugueses
profissionalizaram-se e o tempo do pano às costas e um palito na boca nos
serviços de restauração acabou. Tudo quanto é paisagem interessante passa a PIN
(Projecto de Interesse Nacional) e, consequentemente, transformam-se em resorts
fantásticos e campos de golfe fantásticos em cada distrito, concelho ou
freguesia ou bocadinho de praia ou campo ainda não destruídos.
Ao mesmo tempo, cada turista passa, ele próprio,
a ser também um PIN (Projecto de Interesse Nacional) daí o ser tratado com
Atenção. Temos pobres e zonas degradadas que poderão dar um ar de exotismo
permitindo excelentes fotografias em safaris especializados, um nicho de
mercado com muitos clientes que depois mostram aos amigos as fotografias que
tiraram aos indígenas, até com algum risco, convém dizer para impressionar.
Temos o Special One, o CR7 para além do fado e do vinho do Porto que espelham a
nossa qualidade.
Por fim, somos respeitadores e bem comportados
com os estrangeiros, especialmente com os que cá metem dinheiro, e ainda temos
uma polícia de costumes a ASAE de uma eficácia inultrapassável que zelará pela
qualidade de vida de turistas e empregados, nós.
PS – Temos uns políticos assim para o fraquinho
mas podemos prometer que não os deixamos incomodar os turistas, nós já estamos
habituados. Pede-se à ASAE uma ajuda.
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