Dados hoje conhecidos produzidos pelo EUROSTAT mostram que, em média, os jovens portugueses
deixam a casa dos pais aos 29 anos. Na Suécia, o país com a média mais baixa, a
saída ocorre aos 19,6 anos, sendo que os jovens italianos e gregos ainda saem
mais tarde que os nossos, 29,9 e 29,3 respectivamente.
Para além das questões de natureza cultural que importa
considerar, as actuais circunstâncias de vida dos jovens sustentam este cenário
que, provavelmente, se agravará. Algumas notas sobre este universo.
Na verdade e em termos gerais os mais jovens estão numa
situação particularmente difícil. Em Portugal existirão mais de 300 000 jovens
entre os 15 e 29 anos que não estudam, não trabalham e nem estão a receber
formação, a designada situação “nem, nem”.
Este cenário não será mais grave porque mais de 100 000
jovens, sobretudo qualificados, estão a sair do país, emigrando para outras
paragens em busca de uma futuro que por cá não vislumbram
Acresce que de acordo com um Relatório da Organização
Internacional do Trabalho em 2011, 56 % dos jovens portugueses com trabalho têm
contratos a prazo. Há algum tempo uma informação do Banco de Portugal referia
que em cada dez empregos novos para jovens, nove são precários. Por outro lado,
a taxa de desemprego entre os mais novos ronda os 36 %, a terceira taxa mais
alta da UE.
Por outro lado a crescente proletarização do mercado de
trabalho leva que muitos jovens mesmo qualificados tenham salários muito
baixos. Hoje noticiava-se a existência de engenheiros e professores a receber o
salário mínimo.
A precariedade nas relações laborais quase duplicou na
última década. Portugal é o segundo país da Europa, a seguir à Polónia, com
maior nível de contratos a prazo. Deste cenário e dos números do desemprego,
resulta que os mais novos à entrada no mercado de trabalho são os mais
vulneráveis ao desemprego e à precariedade quando, apesar das dificuldades,
acedem a algum emprego.
Esta situação complexa e de difícil ultrapassagem tem,
obviamente, sérias repercussões nos projectos de vida das gerações que estão a
bater à porta da vida activa. Entre outras, contar-se-ão, os dados hoje
conhecidos mostram-no, o retardar da saída de casa dos pais por dificuldade no
acesso a condições de aquisição ou aluguer de habitação própria ou o adiar de
projectos de paternidade e maternidade que por sua vez se repercutem no inverno
demográfico que atravessamos e que é uma forte preocupação no que respeita à
sustentabilidade dos sistemas sociais. As gerações mais novas que experimentam
enormes dificuldades na entrada sustentada na vida activa, vão também, muito
provavelmente, conhecer sérias dificuldades no fim da sua carreira
profissional.
No entanto, um efeito muito significativo mas menos
tangível desta precariedade no emprego, é a promoção de uma dimensão
psicológica de precariedade face à própria vida no seu todo e que, com alguma
frequência, os discursos das lideranças políticas acentuam. Dito de outra
maneira, pode instalar-se, está a instalar-se, uma desesperança que desmotiva e
faz desistir da luta por um projecto de vida de que se não vislumbra saída
motivadora e que recompense.
Este problema que não é um exclusivo português, longe
disso, exige uma visão e um conjunto de políticas que não se vislumbram e cuja
ausência compromete a construção sustentável do futuro.
Podemos estar perante a tragédia das gerações perdidas de
que há algum tempo se falava.
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