Durante este fim de semana
surgiram na imprensa diferentes notícias tendo com matéria comum os maus tratos
a crianças.
Tivemos referência a uma investigação
realizada na Universidade do Minho indicia que uma parte substantiva de
situações de maus tratos a menores não são detectadas mesmo quando ocorrem em
famílias sinalizadas pelas Comissões de Protecção de Crianças Jovens, à
detenção de uma Directora de uma Instituição de acolhimento a crianças e jovens por
alegados abusos e maus tratos e ainda a notícia de que o Ministério Público
"arrasa" a polémica proposta da Ministra da Justiça relativa à
elaboração de uma lista de condenados por pedofilia acessível a cidadãos que
não elementos das autoridades.
Este conjunto de referências às
agruras e situações pelas quais muitas crianças passam, muitas vezes, sem que
nos apercebamos, através de um daqueles estranhos caminhos da associação de
ideias e de memórias levou-me a recordar o frio da infância. Da narrativa de
Juan José Millás em "O Mundo" quando enuncia, “Quem teve frio
em pequeno, terá frio para o resto da vida, porque o frio da infância nunca
desaparece”.
Na verdade, no Inverno ou no
Verão existem muitos miúdos que passam frio, às vezes muito frio, e nem sempre
conseguimos dar por isso. Acontece até que alguns deles sentem frio em
ambientes muito aquecidos ou mesmo no Verão, como disse. Não se trata do frio
que vem de fora, daquele de que falam os alertas coloridos que nos fazem os
serviços competentes, é o frio que está à beira, um bloco de gelo disfarçado de
família ou de instituição de acolhimento, é o frio que vem de dentro e deixa a
alma congelada e quase sempre o corpo maltratado.
Do frio que vem de fora, apesar
de incomodar, acho que, quase sempre, nos conseguimos proteger e proteger os
miúdos, mas dos frios que estão à beira e dos que vêm de dentro nem sempre o
conseguimos fazer porque também nem sempre os entendemos e estamos atentos ao
frio que tolhe muitas crianças e adolescentes.
Apesar de sentir confiança na
resiliência dos miúdos, expressa em muitíssimas situações de gente que sofreu e
resistiu a experiências dramáticas, uns mais que outros naturalmente, parece-me
fundamental que estejamos atentos aos frios da infância.
Muitas vezes, como diz Millás,
quem teve frio em pequeno terá mesmo frio no resto da vida.
Quando olhamos para muitos
adultos à nossa volta parece também claro o frio que terão passado na infância.
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