sábado, 4 de abril de 2015

DA FINLÂNDIA A PORTUGAL

"Os melhores estão a revolucionar o ensino. Portugal prefere esperar"

Embora venha a retomar aqui de forma um pouco mais aprofundada a proposta de reforma curricular da Finlândia, uma pequena nota decorrente da notícia do DN.
Na verdade, do meu ponto de vista  e contrariamente ao teor do título do jornal, Portugal "não prefere esperar". Em Portugal, Nuno Crato defende e está em impor uma concepção de educação, escola e currículo com princípios completamente diferentes dos que informam a reforma finlandesa ou as tentativas de mudança em França ou na Catalunha.
De há uns anos para cá a educação tem vindo a perder a sua dimensão global assente em desenvolvimento pessoal, formação cívica e qualificação para se centrar apenas na qualificação. Alguns autores de língua inglesa utilizam um termo curioso, a "education" estará a transformar-se em "learnification" algo bastante mais redutor. 
Nesta perspectiva, a função da educação, da escola, é apenas passar metas, os "saberes esssenciais" de que fala Nuno Crato, úteis, instrumentais, dirigidos ao mercado de tabalho. Esta visão traduz-se na definição de currículos prescritivos, extensos, segmentados, assentes só no 1º ciclo em perto de 1000 metas curriculares,  ou, outro exemplo, no programa de Português para o ensino básico em discussão pública são perto também perto de 1000 as metas curriculares, "descritores" de cumprimento obrigatório até ao 9º ano.
Como é evidente, este modelo curricular transforma o trabalho de professor numa administração de uma "checklist" de descritores que será verificada em sucessivos exames. Este modelo impede qualquer tentativa de transversalidade, de formação global, de acomodação de especificidades de contexto, de diferenças de ritmos e capacidades nos alunos ou de apoio às dificuldades.
Ora é justamente para esta perpectiva que se orienta a proposta finlandesa.
Como disse retomarei esta questão. Nesta altura apenas uma nota para mostrar a distância existente entre o que se propõe na Finlândia e o que se está a fazer e a defender em Portugal.

Sem comentários: