Ao concurso externo para ingresso de 1453 professores no quadro candidataram-se 33465 professores boa parte dos quais já com vasta experiência em trabalho
docente, os contratados, também conhecidos por “descartáveis”. O Ministro
assegura, claro, que as vagas abertas satisfazem as necessidades do sistema.
Talvez
seja de recordar que segundo as Sínteses Estatísticas do Emprego Público
divulgadas no boletim do terceiro trimestre de 2014 da Direcção-geral da
Administração e do Emprego Público, de 2011 para 2014 saíram cerca de 30 000
professores, 20% dos existentes.
Ao
contrário do que afirma a propaganda oficial, a variação da demografia escolar,
o número de alunos, não explica este êxodo significativo de professores. Esta
saída acontece mais por consequência da PEC - Política Educativa em Curso que
da alteração do número de alunos.
Como
já tenho referido, parece-me claro que a questão do número de professores
necessário ao funcionamento do sistema é uma matéria bastante complexa que, por
isso mesmo, exige serenidade, seriedade, rigor e competência na sua análise e
gestão, tudo o que tem faltado nesta matéria, incluindo a alguns discursos de
representantes dos professores.
Para
além da questão da demografia escolar que, aliás, o MEC sempre tratou de forma
incompetente e demagógica, importa não esquecer que existem muitos professores
deslocados de funções docentes, boa parte em funções técnicas e administrativas
que em muitos casos seriam dispensáveis pois fazem parte de estruturas do
Ministério pesadas, burocráticas e ineficazes.
Por
outro lado, os modelos de organização e funcionamento das escolas, com uma
série infindável de estruturas intermédias e com uma carga insuportável de
burocratização, retiram muitas horas docentes ao trabalho dos professores que
estão nas escolas.
No
entanto e do meu ponto de vista, o “excesso” de professores no sistema deve ser
também analisado à luz das medidas da PEC – Política Educativa em Curso.
Vejamos alguns exemplos.
Em
primeiro lugar, a mudança no número de professores necessário decorre do
aumento do número de alunos por turma que, conjugado com a constituição de
mega-agrupamentos e agrupamentos leva que em muitas escolas as turmas funcionem
com o número máximo de alunos permitido e, evidentemente, com as implicações
negativas que daí decorrem.
As
mudanças curriculares com a eliminação das áreas não curriculares que,
carecendo de alterações registe-se, também produzem um desejado e significativo
“corte” no número de professores, a que acrescem outras alterações no mesmo
sentido.
O
Ministro “esquece-se” obviamente destes “pormenores”, apenas se refere à
demografia e aos recursos disponíveis para, afirma, definir as necessidades do
sistema.
Este
conjunto de medidas, além de outras como o que se desenha em torno da chamada
“municipalização da educação”, sairão, gostava de me enganar, muito mais caras
do que aquilo que o MEC poupará na diminuição do número de docentes, que
ficaram e ficarão no desemprego, muitos deles tendo servido o sistema durante
anos.
Ficarão
sem trabalhar, não porque sejam incompetentes, a maioria não o é, não porque
não sejam necessários, a maioria é, mas “apenas” porque é preciso cortar, custe
o que custar.
Conhecendo
os territórios educativos do nosso país, julgo que faria sentido que os
recursos que já estão no sistema, pelo menos esses e incluindo os contratados
com muitos anos de experiência, fossem aproveitados em trabalho de parceria
pedagógica, que se permitisse a existência em escolas mais problemáticas de
menos alunos por turma ou ainda que se utilizassem em dispositivos de apoio a
alunos em dificuldades.
Os
estudos e as boas práticas mostram que a presença de dois professores na sala
de aula são um excelente contributo para o sucesso na aprendizagem e para a
minimização de problemas de comportamento bem como se conhece o efeito do apoio
precoce às dificuldades dos alunos.
Sendo
justamente estes os dois problemas que mais afectam os nossos alunos, talvez o
investimento resultante da presença de dois docentes ou de mais apoios aos
alunos, compense os custos posteriores com o insucesso, as medidas remediativas
ou, no fim da linha, a exclusão, com todas as consequências conhecidas.
É
só fazer contas. E nisso o Ministro Nuno Crato é especialista.
Sem comentários:
Enviar um comentário