Para finalizar o dia uma nota a
correr referente à divulgação na imprensa de hoje do aumento verificado em 2014
das apostas dos portugueses no Euromilhões e na Raspadinha apesar dos
rendimentos das famílias continuarem revistos em baixa.
Em 2013 Portugal já era o país
europeu que mais investia "per capita" no Euromilhões, ou
seja, queremos mesmo ser "excêntricos".
Na verdade, o Euromilhões e
depois a Raspadinha estabeleceram-se firmemente na vida de muitos de nós e
criaram mesmo uma imagem criadora de futuro que nos move. Importa reconhecer
que as imagens criadoras de futuro são imprescindíveis, tanto mais quando
atravessamos tempos duros marcados por desesperança.
No que respeita ao Euromilhões,
julgo que se pode afirmar que em muitos lares portugueses e hoje mais do que
nunca, uma das frases mais ouvidas é “nunca mais me sai o euromilhões, para
deixar de trabalhar”. Muito provavelmente, cada um de nós já ouviu, pensou ou
disse esta expressão alguma vez ou vezes. Creio também que não é usada apenas
pelos cidadãos com maiores dificuldades.
Acho curiosa a sua utilização.
Entendo, naturalmente, a ideia subjacente à primeira parte. Um prémio de valor
substantivo representaria, seguramente, a hipótese de acesso a um patamar
superior de bem-estar económico, desejado, naturalmente, por toda a gente. O
que de facto me parece mais interessante é o complemento “para deixar de
trabalhar”. É certo que nem todas as expressões devem ser entendidas no seu
valor “facial”, mas é também verdade que a recorrente afirmação deste desejo
acaba por ilustrar a relação que muitos de nós estabelecemos com o lado profissional
da nossa vida, isto é, “quero livrar-me dele o mais depressa possível”. Não
será grave, mas é um indicador que possibilita várias leituras.
Neste contexto sabem qual é a
minha inquietação? É se os miúdos, considerando a agitação que vai pelo seu
mundo “laboral”, desatam a pedir um aumento de mesada que lhes permita apostar
no Euromilhões para … deixar de ir à escola.
Já estivemos mais longe.
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