Na imprensa de hoje surgem umas
referências a uns "jeitinhos" que o "Dr." Miguel Relvas
pediu ao Presidente do Instituto dos Registos e Notariado e que foram,
obviamente, rapidamente realizados. Nada
de estranho, o trabalho dos "Facilitadores" é este mesmo facilitar. Aliás,
creio mesmo que este comportamento quase faz parte da nossa cultura cívica. "Dar
um jeitinho", "fazer uma atençãozinha" são coisas do dia a dia. Mesmo
os que de nós, também me incluo, vociferamos contra isto já nos deixámos uma
vez ou outra envolver no "jeitinho" ou na "atençãozinha".
Depois é uma questão de escala,
pode ir de meia dúzia de robalos a milhões colocados em zonas francas. Diversas
vezes aqui tenho me referido a essa espécie de traço da nossa cultura cívica
"a atençãozinha" ou a sua variante "dar um jeito". Trata-se
de um fenómeno, um comportamento, profundamente enraizado e com o qual
parecemos ter uma relação ambivalente, uma retórica de condenação, uma pontinha
de inveja dos dividendos que se conseguem e a tentação quotidiana de receber ou
providenciar uma "atençãozinha" ou pedir ou dar um jeito, sempre
"desinteressadamente", é claro.
A teia de interesses que ao longo
de décadas se construiu envolvendo o poder político, a administração pública,
central e autárquica, o poder económico, o poder cultural, a área da justiça e
segurança, parte substantiva da comunicação social e toda a relação do dia a
dia com a "atençãozinha" à recepcionista que nos passa para a frente
na lista de espera ou ao funcionário de quem esperamos que possa dar um
"jeito", dificulta seriamente qualquer alteração substantiva neste
modo de funcionar.
Combatê-lo passará, naturalmente,
por meios e legislação adequada, mas passa sobretudo pela formação cívica que
promova uma outra cidadania. Estarão lembrados que há algum tempo atrás foram
divulgados estudos evidenciando a nossa atitude tolerante para com a corrupção.
Certamente que poderíamos viver
sem a "atençãozinha" ou o "jeitinho", mas não era a mesma
coisa.
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