segunda-feira, 27 de abril de 2015

A METADE DO CÉU

Estes dados vão no mesmo sentido de trabalho anterior da OCDE, “Closing the Gender Gap: Act Now, sendo que nesse estudo as mulheres portuguesas eram as quartas mais “trabalhadeiras”.
Curiosamente no relatório Society at a Glance 2011, Portugal ocupava o mesmo lugar do ranking de “trabalhadeiras”, o quarto, na diferença entre homens e mulheres.
Também em 2011, um estudo realizado pela Intersindical com base em dados do INE e do Ministério do Trabalho mostrava que as mulheres portuguesas trabalham média 39 horas semanais e realizam mais 16 horas de trabalho não remunerado relacionado com a família. Um outro trabalho internacional revelava que as mulheres portuguesas são das que mais tempo trabalham fora de casa. Existem também indicadores sustentando que as mulheres portuguesas são de entre as europeias as que mais valorizam a carreira profissional e a família, a maternidade.
Este conjunto de indicadores ilustram as dinâmicas familiares actuais e ajudam, também a entender as dificuldades e inibição que muitas famílias sentem em integrar filhos nos seus projectos de vida e o consequente envelhecimento e ausência de renovação geracional.
É evidente que as questões não são exclusivamente de natureza económica, os valores e a condição da mulher nas diferentes comunidades desempenham um papel crucial e interagem com as questões económicas. Os salários são genericamente baixos e baixos e não podemos esquecer a discriminação salarial de que muitas mulheres, sobretudo em áreas de menor qualificação, são ainda alvo e a forma como a legislação laboral e a sua “flexibilização” as deixam mais desprotegidas. São conhecidas muitas histórias sobre casos de entrevistas de selecção em que se inquirirem as mulheres sobre a intenção de ter filhos, sobre casos de implicações laborais negativas por gravidez e maternidade, sobre situações em que as mulheres são pressionadas para não usarem a licença de maternidade até ao limite, etc. Pode também referir-se que apesar das alterações legislativas o uso partilhado da licença por nascimento de filhos ainda é significativamente baixo.
Na verdade e apesar de algumas alterações que se vão sentindo, a metade do céu, que as mulheres representam, carrega um fardo pesado.

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Professor, creio que ainda há muito por fazer em termos de igualdade de género, a começar nas escolas do 2º Ciclo. Ainda Há algum tempo ouvi na rádio um discurso sobre se o discurso feminista ainda faz sentido no século XXI.Na minha opinião ainda faz todo o sentido.
Cumprimentos
Pedro.

Zé Morgado disse...

Sem dúvida, Pedro.