sábado, 4 de abril de 2015

ATÉ CALADOS DESAFINAM

Há uns minutos antes de recomeçarmos a lida da tarde aqui no monte, rega e roçar umas ervas, eu e o Mestre Zé Marrafa estivemos uns minutos nas lérias, como é habito, diga-se.
A páginas tantas falou-se do que se vê na televisão e do que "eles" dizem, "sempre a mesma coisa".
O Mestre Zé, homem do cante até à morte recente da mulher, com aquele ar de sempre, um sorriso, a mão a passar pelo bigode e os olhos pretos e pequenos a brilhar conclui, "essa gente é como aqueles companheiros que até calados desafinam, quando abrem a boca então é uma desgraça".
É uma perspectiva, na verdade tanta gente que podia estar calada.
E ainda assim, na volta, desafinavam.

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