quarta-feira, 15 de abril de 2015

A SÍNDROME PÓS-MINISTÉRIO

Ex-ministros de PS e PSD defendem mudanças nos ciclos de ensino

Não acompanho suficientemente de perto a situação noutros países para ter uma perspectiva comparativa, mas existe uma espécie de síndrome em Portugal que afecta a classe política com experiência de poder. Esta síndrome, a que poderemos chamar "pós-ministério" ou, dito de outra maneira, “sei muito bem o que deveria ser feito, mas quando fui ministro esqueci-me”, é patente em muitíssimos ex-governantes oriundos dos partidos que já assumiram responsabilidades de governo em diferentes áreas.
Vem esta introdução a propósito do debate entre ex-ministros da educação e como todos apresentaram ideias claras sobre o que deve mudar na educação em Portugal o que me parece sempre altamente estimulante.
Não assisti e do que conheço acho que fará sentido, por exemplo, reorganizar o sistema de ensino. Defendo de há muito um primeiro ciclo de seis anos, um segundo de três anos já com algumas disciplinas opcionais e o ensino secundário com vias diferenciadas incluindo formação profissional.
O que me parece curioso nestas circunstâncias é a apresentação uma visão clara sobre os males e constrangimentos da área sectorial em que exerceram funções políticas, no caso a educação, bem como, propostas de desenvolvimento e correcção visando a desejável qualidade e o progresso, depois de terem abandonado o poder nesse mesmo sector.
A pergunta, certamente estúpida e demasiado óbvia, que me ocorre face a este tipo de discursos é “então porque não fez, porque não defendeu assertivamente as ideias agora expressas, quando teve poder para tal?” Podemos, com alguma habilidade, tentar encontrar respostas. Acabaremos, creio por definir, inevitavelmente, duas hipóteses básicas, não puderam ou não souberam, qual delas a mais animadora.
Na primeira, não puderam, implica questionar qual o poder que efectivamente o ministro detém relativamente às políticas do sector que tutela, ou seja, qual o verdadeiro nível de responsabilidade de quem assume o poder e as dificuldades para ultrapassar e gerir as corporações de interesses ameaçadas pelas mudanças. Na segunda, não souberam, dá para entender que a competência não abundará o que não me parece menos inquietante.
Em todo o caso, algum pudor e a humildade de nos explicarem porque não executaram as políticas que posteriormente defendem, seriam esclarecedoras e um bom serviço prestado à causa pública.
A questão é que muitos destes discursos que se apresentam como parte da solução, na verdade, são, foram, parte do problema.
Recordo a este propósito a afirmação do filósofo holandês Rob Riemen, numa conferência em Portugal, "A classe política dificilmente será capaz de resolver a crise. Ela é a crise".

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