Ex-ministros de PS e PSD defendem mudanças nos ciclos de ensino
Não acompanho suficientemente de
perto a situação noutros países para ter uma perspectiva comparativa, mas
existe uma espécie de síndrome em Portugal que afecta a classe política com
experiência de poder. Esta síndrome, a que poderemos chamar
"pós-ministério" ou, dito de outra maneira, “sei muito bem o que
deveria ser feito, mas quando fui ministro esqueci-me”, é patente em muitíssimos
ex-governantes oriundos dos partidos que já assumiram responsabilidades de
governo em diferentes áreas.
Vem esta introdução a propósito
do debate entre ex-ministros da educação e como todos apresentaram ideias
claras sobre o que deve mudar na educação em Portugal o que me parece sempre
altamente estimulante.
Não assisti e do que conheço acho
que fará sentido, por exemplo, reorganizar o sistema de ensino. Defendo de há
muito um primeiro ciclo de seis anos, um segundo de três anos já com algumas
disciplinas opcionais e o ensino secundário com vias diferenciadas incluindo
formação profissional.
O que me parece curioso nestas
circunstâncias é a apresentação uma visão clara sobre os males e
constrangimentos da área sectorial em que exerceram funções políticas, no caso a educação, bem
como, propostas de desenvolvimento e correcção visando a desejável qualidade e
o progresso, depois de terem abandonado o poder nesse mesmo sector.
A pergunta, certamente estúpida e
demasiado óbvia, que me ocorre face a este tipo de discursos é “então porque
não fez, porque não defendeu assertivamente as ideias agora expressas, quando
teve poder para tal?” Podemos, com alguma habilidade, tentar encontrar
respostas. Acabaremos, creio por definir, inevitavelmente, duas hipóteses
básicas, não puderam ou não souberam, qual delas a mais animadora.
Na primeira, não puderam, implica
questionar qual o poder que efectivamente o ministro detém relativamente às
políticas do sector que tutela, ou seja, qual o verdadeiro nível de
responsabilidade de quem assume o poder e as dificuldades para ultrapassar e
gerir as corporações de interesses ameaçadas pelas mudanças. Na segunda, não
souberam, dá para entender que a competência não abundará o que não me parece
menos inquietante.
Em todo o caso, algum pudor e a
humildade de nos explicarem porque não executaram as políticas que
posteriormente defendem, seriam esclarecedoras e um bom serviço prestado à
causa pública.
A questão é que muitos destes
discursos que se apresentam como parte da solução, na verdade, são, foram,
parte do problema.
Recordo a este propósito a
afirmação do filósofo holandês Rob Riemen, numa conferência em Portugal, "A
classe política dificilmente será capaz de resolver a crise. Ela é a
crise".
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