sexta-feira, 24 de abril de 2015

A AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR. DE NOVO

Os que mais regularmente acompanham este espaço estarão recordados que há dois dias face a algo que ouvi a alguns colegas que me deixou inquieto, solicitei que alguém mais ligado ao universo da educação pré-escolar confirmasse a existência de orientações/exigências em alguns agrupamentos, por parte das direcções ou da tutela, para que as avaliações às crianças fossem objecto de quantificação ou que dados de avaliações qualitativas fossem transformados em dados quantitativos.
Dadas as limitações de espaço deixo aqui apenas alguns excertos daquilo que recebi para além de várias outras mensagens que apenas confirmavam tal a ocorrência de tal situação, acompanhados de umas notas breves.
"sim, confirmo. com check list de metas e sub metas para todas as áreas e conteúdo e para as 3 idades. alguns casos com menções qualitativas, outros casos com um tipo de código quantitativo que permite, depois, a sua análise estatística e apresentação de resultados iguais aos outros níveis de ensino."
"também confirmo... com percentagens e tudo."
"De facto, a diversidade de "modelos" de avaliação na Educação Pre-Escolar, decorrente quer das incoerentes e inconcebíveis "orientações" legais, mas também das diversas interpretações que muitos agrupamentos fazem dessas mesmas "orientações" têm provocado um sem fim de "anormalidades" que vão desde as "quantificações" de resultados à existência de grelhas de avaliação e "fichas de observação" que, em alguns casos chegam a ter 150 "critérios avaliáveis"." 
"Confirmo. E o meu horário já está dividido por horas( p.e segunda das 9:00 às 9:30 matemática e assim sucessivamente para todos os domínios) e com coadjuvações. As metas foram divididas pelos 3,4 e 5 anos."
"Confirma-se. E passa por todos os setores: público, privado e IPSS
"Com horários dividido por horas( p.e segunda das 9:00 às 9:30 matemática e assim sucessivamente para todos os domínios) e com coadjuvações."
"no meu Agrupamento insistiu-se na ideia peregrina de "aproximar" os "sistemas de avaliação" do pré e do 1o. Ciclo, através de "instrumentos" semelhantes."
É um lugar comum afirmar que a realidade supera a ficção mas fiquei perplexo.
A febre da medida está a chegar à educação pré-escolar de uma forma preocupante.
Esta febre, decorrente da examocracia que se instalou no sistema educativo português, tem efeitos negativos no contexto da escolaridade obrigatória como sucessivos Relatórios da OCDE e uma recente Recomendação do Conselho Nacional de Educação sublinham.
Como é claro para toda gente no mundo da educação, a avaliação e a medida em contextos de aprendizagem são ferramentas fundamentais como reguladores da qualidade dos processos educativos.
Como também é claro que as crianças são diferentes, os contextos educativos e institucionais são diferentes como instituições educativas, educadores e professores devem ter autonomia que lhes permitam responder e acomodar as diferenças referidas relativas a alunos, instituições e contextos.
Acresce que os diferentes patamares do sistema educativo tem particularidades que devem ser acauteladas. Neste sentido, a educação pré-escolar tem uma função e um conjunto de objectivos que sugerem a desadequação de instituir a medida como regulador da qualidade do trabalho de adultos e crianças, bem como, replicando o que acontece tragicamente na escolaridade obrigatória, é completamente desjustada a definição de "metas curriculares", o objecto da medida, que inibem a acomodação das diferenças entre as crianças e a autonomia de educadores e educadoras.
Como há dias escrevia no Público, os caminhos da nossa educação, da nossa escola, estão no sentido da "normalização" que suporta a medida. Recusa-se a diferenciação a única forma de promover QUALIDADE PARA TODOS. É evidente que a diferenciação continua a precisar da avaliação.
Em cada circunstância, em cada grupo de alunos, crianças, em cada escola, é imprescindível o equilíbrio entre avaliar e medir.
Sobrevalorizar a medida em detrimento da avaliação em educação pré-escolar é um péssimo serviço prestado às crianças e aos profissionais que as ajudam a crescer e a ser.
Finalmente, que fazer com os dados quantitativos? Estabelecem-se rankings? Chumbam-se as crianças aos 3, 4 ou 5 anos até terem "aproveitamento"? Vão para apoio? Terão exame final na educação-pré-escolar ou exame de admissão no 1º ciclo? Recorre-se a explicadores? Encaminham-se já para o ensino vocacional?
A situação é deveras preocupante. Não podemos deixar de estar atentos e procurar resistir.

5 comentários:

Anónimo disse...

E que fazer, quando estamos fartas de repetir isto, não nos ligam e quase somos tomadas como arruaceiras! Alguém que diga BASTA!!!!!! POR FAVOR

Zé Morgado disse...

Na verdade não está fácil. Não podemos desistir.

Anónimo disse...

DESSES TEMPOS NÃO ESQUEÇO
DA PORRADA E DO CANIL
ACHO QUE ENLOUQUEÇO
SE NÃO FESTEJAR ABRIL

HÁ QUEM O QUEIRA ESQUECER
COM POLITICAS DE DIREITA
ELES TÊM QUE PERCEBER
QUE O POVO OS ENJEITA

SE ESTA SEITA CONTINUAR
O PAÍS VAI EMPOBRECER
O POVO VAI SE JUNTAR
ENTÃO É VELOS CORRER

AO FAZER ESTAS QUADRAS
SINTO UMA GRANDE ALEGRIA
SÓ DE PENSAR QUE OS CAMARADAS
IMPLANTARAM A DEMOCRACIA

AGORA VOU TERMINAR
DEPOIS VOU AO BARRIL
COM UM COPO VOU FESTEJAR
MAIS UM 25 DE ABRIL

POR
um poeta desconhecido

susana c. disse...

Quero acreditar que começam a surgir cada vez mais vozes (e, felizmente, algumas ações) contra este sistema que teima em aproximar pessoas a máquinas. Não somos máquinas. Eu estou na luta!

Zé Morgado disse...

Esperemos que algo mude, Susana.