No trabalho apresentado, entre outros aspectos, releva a evidência de assimetrias e
fragilidades significativas na formação dos docentes no que se refere à
educação inclusiva e à resposta em sala de aula aos alunos com necessidades
educativas especiais.
Para
quem acompanha de mais perto esta realidade a constatação não é surpreendente.
Aliás, o Conselho Nacional de Educação em 2014 chamava a atenção para a qualidade
da formação dos professores de educação especial.
Creio
que gostamos todos de acreditar e sentir que que existe um lado do trabalho do
professor que decorre da “vocação”, do “jeito” do “gostar muito de crianças” ou
qualquer outro atributo da mesma natureza e com a designação que lhe queiram
dar. Assim será.
No
entanto, aproveitando a afirmação conhecida de Bethelheim “L’amour ne suffit
pas”, ou seja, é fundamental que se aceda à preparação adequada para a função.
Na
verdade, o trabalho de várias décadas neste universo têm permitido constar
justamente as fragilidades da formação de muitos professores, do ensino regular
e da designada educação especial” para, primeiro, proceder à avaliação adequada
e rigorosa das dificuldades dos alunos, condição imprescindível a uma
intervenção mais eficaz e, segundo, planear, definir metodologias e actividades
que promovam essa eficácia.
E
isto aplica-se a docentes do ensino regular como também a professores de
educação especial que muitas vezes face às crianças sentem as mesmas
dificuldades impedindo que alguém ajude efectivamente outro alguém e,
finalmente, o aluno.
O
empenho, a vontade de fazer bem e ajudar mesmo em circunstância difíceis
criadas por falta de recursos e orientações e políticas erradas, não chegam
para assegurar o direito de crianças e jovens a uma educação de qualidade e
junto dos seus colegas da mesma idade.
Cito
com frequência uma afirmação de 2000 do Council for Exceptional Children,
"o factor individual mais contributivo para a qualidade da educação é a
existência de um professor qualificado e empenhado".
Não
desconhecendo o quadro existente no ensino superior no que respeita à autonomia
sei também que deveríamos ter dispositivos mais eficazes de formação de professores,
do ensino regular e “especializados” neste domínio, educação inclusiva.
Seria
necessário reflectir, por exemplo, sobre as funções e perfis ajustados a essas funções
que se atribuem aos professores nesta área e, a partir desses perfis, definir a
formação adequada.
Sei
também que os tempos não vão favoráveis à educação inclusiva que tem,
justamente, como ferramenta operacional mais importante a diferenciação no
trabalho educativo e nos percursos dos alunos de forma a acomodar as suas
diferenças ou necessidades. Os tempos vão em sentido contrário, vão no sentido
da normalização, da febre da medida, que exclui a diferença.
Também
por isto a formação dos professores é tão importante.
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