terça-feira, 28 de abril de 2015

DUAS FAMÍLIAS

O número anual de divórcios tem vindo a diminuir. Esta situação não parece decorrer de uma maior estabilidade e duração das relações familiares, aliás, também se verificam menos casamentos formais,  mas dos custos económicos da separação e reconstrução de vidas individuais
Neste cenário tem vindo a crescer o número de situações de casais que, apesar de separados, continuam a coabitar o mesmo espaço ou que nem sequer assumem a separação, criando uma situação de "casados por fora" e "descasados por dentro", que poderá implicar, quando existem filhos, algumas ansiedades e inquietações nos pais sobre a forma de lidar com um contexto em que aparentemente existe uma família, quando na verdade já são duas com uma ou mais crianças entre elas.
Esta situação, "casados por fora e descasados por dentro" pode ainda acontecer os casais que com o alibi da protecção dos filhos mascaram uma relação que já não existe mas que se sentem incapazes de dar fim.
Na verdade, as crianças e adolescentes também percebem, sentem, muito bem quando as coisas se alteram. Na maioria das situações as coisas correm bem, é sempre preferível uma boa separação a uma má família, mas a convivência de um grupo de pessoas que não se separa e já não é uma família pode conter alguns riscos de insegurança e instabilidade para os mais novos tal como nas separações efectivas e, consoante as idades, assumir efeitos ou riscos diferentes.
Assim sendo, importa estar atento e a experiência diz-me serem frequentes as situações de separação em que os adultos sentem insegurança e ansiedade e até exprimem a necessidade de ajuda. Acresce que as questões à família às novas famílias são ainda objecto de discursos muito contaminados pelos sistemas de valores éticos, morais, religiosos e culturais.
O volume de opiniões sobre estas situações é extenso, oscilando entre considerações de natureza moral e/ou ética e um entendimento científico sobre a forma como as famílias e sobretudo as crianças e jovens lidam ou devem lidar com as circunstâncias. Por mim, creio “apenas” que o(s) ambiente(s) familiar(es) deve ser suficientemente saudável para que a criança se organize também saudavelmente e faça o seu caminho sem uma excessiva preocupação geradora de ansiedade e insegurança em todos os envolvidos, miúdos e graúdos.
De há muito que defendo ser mais interessante para as crianças uma boa separação do que uma má família. No entanto, como sempre afirmo, há que estar atento e perceber os sinais que as crianças mostram e, na verdade, com alguma frequência, os pais estão tão centrados no seu próprio processo que podem negligenciar não intencionalmente a atenção aos miúdos e à forma como estes vivem a situação. Pode ser necessário alguma forma de apoio externo mas sempre encarado de uma forma que se deseja serena e não culpabilizante.
Para ilustrar este universo um desenho que, creio, já aqui ter deixado de uma criança a quem foi solicitado na escola que desenhasse a sua família.


                

Acho muito interessante que as suas duas famílias têm um solzinho que as aquece e aconchega. As crianças são muito capazes de lidar bem com duas famílias.

Sem comentários: