O número anual de divórcios tem
vindo a diminuir. Esta situação não parece decorrer de uma maior estabilidade e
duração das relações familiares, aliás, também se verificam menos casamentos
formais, mas dos custos económicos da
separação e reconstrução de vidas individuais
Neste cenário tem vindo a crescer
o número de situações de casais que, apesar de separados, continuam a coabitar
o mesmo espaço ou que nem sequer assumem a separação, criando uma situação de
"casados por fora" e "descasados por dentro", que poderá
implicar, quando existem filhos, algumas ansiedades e inquietações nos pais
sobre a forma de lidar com um contexto em que aparentemente existe uma família,
quando na verdade já são duas com uma ou mais crianças entre elas.
Esta situação, "casados por fora e descasados por dentro" pode ainda acontecer os casais que com o alibi da protecção dos filhos mascaram uma relação que já não existe mas que se sentem incapazes de dar fim.
Na verdade, as crianças e
adolescentes também percebem, sentem, muito bem quando as coisas se alteram. Na
maioria das situações as coisas correm bem, é sempre preferível uma boa
separação a uma má família, mas a convivência de um grupo de pessoas que não se
separa e já não é uma família pode conter alguns riscos de insegurança e
instabilidade para os mais novos tal como nas separações efectivas e, consoante as idades, assumir efeitos ou riscos diferentes.
Assim sendo, importa estar atento
e a experiência diz-me serem frequentes as situações de separação em que os
adultos sentem insegurança e ansiedade e até exprimem a necessidade de ajuda.
Acresce que as questões à família às novas famílias são ainda objecto de
discursos muito contaminados pelos sistemas de valores éticos, morais, religiosos e culturais.
O volume de opiniões sobre estas
situações é extenso, oscilando entre considerações de natureza moral e/ou ética
e um entendimento científico sobre a forma como as famílias e sobretudo as
crianças e jovens lidam ou devem lidar com as circunstâncias. Por mim, creio
“apenas” que o(s) ambiente(s) familiar(es) deve ser suficientemente saudável
para que a criança se organize também saudavelmente e faça o seu caminho sem
uma excessiva preocupação geradora de ansiedade e insegurança em todos os
envolvidos, miúdos e graúdos.
De há muito que defendo ser mais
interessante para as crianças uma boa separação do que uma má família. No
entanto, como sempre afirmo, há que estar atento e perceber os sinais que as
crianças mostram e, na verdade, com alguma frequência, os pais estão tão
centrados no seu próprio processo que podem negligenciar não intencionalmente a
atenção aos miúdos e à forma como estes vivem a situação. Pode ser necessário alguma forma de apoio externo mas
sempre encarado de uma forma que se deseja serena e não culpabilizante.
Para ilustrar este universo um
desenho que, creio, já aqui ter deixado de uma criança a quem foi solicitado na
escola que desenhasse a sua família.
Acho muito interessante que as
suas duas famílias têm um solzinho que as aquece e aconchega. As crianças são muito capazes de lidar bem com duas famílias.
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