O texto de Paulo Guinote no Público, “O Ministro implodido”
fez-me pensar e retornar à curiosidade com que tenho vindo a assistir às
reviravoltas opinativas de pessoas com algum reconhecimento público sobre o
Ministro da Educação, Nuno Crato, e a sua extraordinária actuação política.
De facto, é notória a "cambalhota", por assim
dizer, de pessoas como Carlos Fiolhais, por exemplo, que passaram de discursos
laudatórios sobre Nuno Crato e as suas opiniões sobre educação para posições
arrasadoras sobre a sua actuação. Aliás, registo a mudança no mesmo sentido do
discurso que poderemos designar como "editorial" do Público, recordo
o tempo de José Manuel Fernandes, sobre a mesma questão.
Tenho para mim, fui falando sobre isso ao longo destes
anos, que a visão de Nuno Crato sobre a educação era conhecida e, por isso, não
surpreendente. Creio, aliás, que boa parte das apreciações positivas que lhe
eram feitas decorriam sobretudo da sua reacção às políticas desenvolvidas na
altura, sobretudo durante a perturbadora e pouco competente passagem de Maria
de Lourdes Rodrigues pela 5 de Outubro, do que da percepção mais profunda do
que verdadeiramente Nuno Crato defendia. Ficou para a história a célebre
afirmação sobre a implosão do Ministério de que Paulo Guinote hoje parte no seu
artigo. Os resultados estão à vista.
Os tempos mais recentes "apenas" mostram os
aspectos operacionais da sua visão sobre educação e uma enorme incompetência na
gestão de processos onde era suposto não falhar quem erguia como bandeiras a
excelência, o rigor e a competência.
Mais do que retomar a implosão do Ministério ou a
implosão do Ministro julgo que é de questionar a implosão da educação e ensino
públicos que tem informado a política de Nuno Crato.
Em Julho de 2014 Nuno Crato afirmava à Lusa ser difícil
implementar reformas num "sistema muito centralizado, muito dependente do
Estado, onde os professores são funcionários públicos".
O enunciado não é surpreendente mas clarifica a missão do
Ministro, a implosão do sistema público de Educação.
Entende Nuno Crato que um sistema centralizado é negativo. Estou de acordo. Então que se promova seriamente um reforço da autonomia das escolas, que se
promova a desburocratização de processos. Acontece que esta centralização,
burocracia controleira e o fingimento de autonomia em que o sistema vive são
promovidas e alimentadas justamente pelo ... MEC.
Diz também que é um sistema dependente do Estado e os
professores são funcionários públicos, dois pecados mortais. Acontece que é
justamente esta tutela do estado relativa ao sistema e aos recursos que lhe
confere, também, o carácter de "sistema público" de educação e
ensino.
É clara a política de Nuno Crato e nesta altura começa do
meu ponto de vista a colocar-se uma outra questão, a herança que a actuação de
Nuno Crato irá deixar no sistema educativo português. Qual será? Que fazer com
essa herança?
Creio que nos esperam, para não variar, dias agitados na
educação.
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