Quando em algumas circunstâncias nos referimos a problemas
ou dificuldades que a vida coloca à generalidade dos miúdos é muito frequente
ouvirem-se algumas vozes ou discursos do tipo “eu também passei muito e estou
aqui”, “também passei por isso e fez-me crescer”, “agora acham tudo tem de ser
fácil para os miúdos”, “no meu tempo é que tínhamos problemas”, “os miúdos
agora têm tudo”, “agora não lhes falta nada”, etc., etc.
Confesso que embora, em algumas circunstâncias, compreenda
estes discursos tenho alguma dificuldade em aceitar e, por vezes, reajo.
Com a idade e com a lida permanente nesta área tenho vindo
a acompanhar a vida dos mais novos, da generalidade dos miúdos. Ontem, tal como
hoje e amanhã, existem crianças que viveram, vivem e viverão em condições muito
adversas.
Alguns sobreviveram, sobrevivem e sobreviverão. No entanto,
sobreviver não significa, necessariamente, viver bem.
Esta minha nota nem sequer se dirige a situações extremas
que regularmente são do nosso conhecimento, como nos últimos dias ocorreram,
estou a pensar na generalidade dos miúdos e nas suas condições de vida que, do
meu ponto de vista, não são tão fáceis como muitas vezes se afirma.
Estilos de vida e condições familiares pouco amigáveis,
pobreza e privação, uma escola que nem sempre é cuidadora e um espaço positivo
de crescimento e aprendizagem, criam dificuldades que nem sempre são
devidamente valorizadas.
Aliás, num tempo em mais do que nunca se produzem discursos
sobre os miúdos e o seu mundo ainda não somos suficientemente atentos ao que é
a vida deles
Digo eu.
Sem comentários:
Enviar um comentário