No concurso para o quadro de docentes a decorrer com 33 500 candidatos para 1453 vagas existem professores que se candidatam com décadas de trabalho avaliado e contínuo sem que tenham conseguido entrar nos quadros. Há mesmo o caso de um docente à beira da
idade da reforma, 69 anos, que se candidata para que ao fim de dezenas de anos de
trabalho possa ser ... professor integrado numa carreira, mesmo que por menos
de um ano.
Acontece ainda que por
incompetência do MEC se gera uma situação de profunda iniquidade pois a instituição
de uma "norma padrão" leva que cerca de 800 vagas sejam preenchidas
por professores com pior classificação que outros candidatos.
É cada vez mais difícil ficar
surpreendido com a incompetência do MEC liderado por um farol genial de rigor,
excelência e competência.
Recordo que no concurso de 2014 a
média de idade dos docentes que obtiveram vínculo foi de 41 anos de idade, uma
excelente altura para obter alguma estabilidade na carreira profissional e
apresentam em média 14 anos de serviço como contratados, repito, 14
anos de serviço como contratados. Tratando-se do valor médio importa salientar
que existiam, existem, casos de professores com mais de 20 anos de serviço
prestado e avaliado sem qualquer vínculo e mesmo um docente com 30 anos de
serviço que, finalmente, consegue um lugar no quadro, é obra. Acontece ainda
que os docentes não vinculados e classificados imediatamente a seguir aos que
conseguiram vinculação possuíam em média 16 anos de experiência docente. Só um
país muito rico ou muito mal gerido desperdiça os seus recursos humanos desta
forma, estando ainda por verificar o impacto do não cumprimento por parte do
Governo português da directiva comunitária que não permite o abuso de contratos
sucessivos e prolongados sem acesso ao quadro..
O Ministro Nuno Crato afirma
recorrentemente que estas contratações correspondem a “necessidades reais e
permanentes”. Só agora chegou a esta notável conclusão.
Estes professores não andaram
estes anos todos a colmatar “necessidades reais e permanentes” do sistema? Haja
seriedade.
Em que outra profissão pode
acontecer milhares de pessoas prestarem de forma continuada durante anos,
muitos anos, serviço ao mesmo empregador sem aceder a um vínculo estável que
lhes permita criar uma imagem de futuro e uma perspectiva de carreira.
Como muitas vezes tenho afirmado,
parece-me claro que a questão do número de professores necessário ao
funcionamento do sistema é uma matéria bastante complexa que, por
isso mesmo, exige serenidade, seriedade, rigor e competência na sua análise e
gestão, justamente tudo o que tem faltado em todo este processo desde há muito
e, incluindo a alguns discursos de representantes dos professores.
Para além da questão da
demografia escolar que, aliás, o MEC sempre tratou de forma incompetente e
demagógica, as necessidades ou o “excesso” de professores no sistema, como
entende o MEC, deve ser também analisado à luz das medidas da PEC – Política
Educativa em Curso. Vejamos alguns exemplos.
Em primeiro lugar, a mudança no
número de professores necessário decorre do aumento do número de alunos por
turma que, conjugado com a constituição de mega-agrupamentos e agrupamentos
leva que em muitas escolas as turmas funcionem com o número máximo de alunos
permitido, ou mesmo acima, com as evidentes implicações negativas que daí
decorrem.
As mudanças curriculares com a
eliminação das áreas não curriculares que, carecendo de alterações registe-se,
também produzem um desejado e significativo “corte” no número de professores, a
que acrescem outras alterações no mesmo sentido.
O Ministro “esquece-se” sempre,
obviamente, destes “pormenores”, apenas se refere à demografia, em termos
errados e habilidosos, e aos recursos disponíveis para, afirma, definir as
necessidades “reais e permanentes”de professores, processo obviamente incompetente.
Este conjunto de medidas, além de
outras, virão a revelar-se, gostava de me enganar, muito mais caras do que
aquilo que o MEC poupará na diminuição do número de docentes que ficarão no
desemprego, muitos deles tendo servido o sistema durante anos.
Milhares de professores vão ficar
sem trabalhar, não porque sejam incompetentes, a maioria não o é e possui uma
vasta experiência, não porque não sejam necessários, a maioria é, mas “apenas”
porque é preciso cortar, cortar, custe o que custar.
Sem comentários:
Enviar um comentário