O texto de opinião de David
Rodrigues no Público de hoje, "Diferenças na escola" questionando a
necessidade de "mudar a escola"
no sentido de conseguir acomodar as diferenças entre os alunos. É bem
intencionado mas, meu caro David, desculpar-me-ás, ineficaz. Não porque esteja
errado mas porque se situa do outro lado das políticas educativas actuais em
Portugal e não só.
De facto, depois de algumas décadas
em que se tentou pensar e estruturar uma escola que pudesse ser capaz de
diferenciar, de incluir, de acomodar diferenças entre os alunos a escola tem
vindo a ser reorientada para uma perspectiva de "normalização" que
produz exclusão.
Esta visão de "normalização"
é estruturante de toda a política educativa. Traduz-se de forma substantiva na hipervalorização
da avaliação externa em detrimento da avaliação de natureza mais formativa. A
OCDE tem alertado em sucessivos documentos para este caminho mas parece estar
instalada a ideia de que os exames, só por existirem, promovem qualidade, o
que, evidentemente, não acontece, antes pelo contrário, promovem uma retenção
que não contém potencial de melhorias como bem assinalou o CNE em relatório
recente.
Em consequência desta "examocracia" em que se tem
transformado o nosso sistema educativo, a pressão para resultados traduzida,
por exemplo, em rankings, constrói-se um processo educativo de
"normalização", burocratizado e pouco flexível. Neste contexto é
peça importante a organização curricular, altamente prescritiva, extensa e
burocratizada, assente em metas curriculares também extensas e, dizem os
especialistas, inadequadas que fazem correr o sério risco de que o ensino se
transforme na gestão de uma espécie de "check list" das metas
estabelecidas implicando a impossibilidade de acomodar as diferenças, óbvias,
entre os alunos, os seus ritmos de aprendizagem, criando ambientes escolares
pouco amigáveis, por assim dizer, para crianças que experimentem algum tipo de
dificuldade.
Dito de outra maneira, a escola
estará a sentir progressiva dificuldade acomodar as diferenças, pois deve
acrescentar-se a insuficiência de recursos docentes e técnicos fruto da
política contabilística do MEC.
Assim, vítimas de uma espécie de
"darwinismo" educativo, vão saindo das salas de aula os "menos
dotados", os "preguiçosos", os "sem jeito para a
escola", que são remetidos, "empurrados" para espaços guetizados ou vias
educativas consideradas de segunda, dentro ou fora das escolas.
Neste contexto inquietante em que
a maioria dos professores, apesar do MEC, tenta reinventar diariamente o
sentido da sua missão e acolher todos os alunos parece-me na verdade difícil
"mudar a escola".
Não me orgulho de o afirmar e
preciso de, apesar de tudo, manter algum optimismo. Quero que o meu neto frequente
uma escola para todos, com equidade e com qualidade.
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