É impossível fugir à reflexão sobre estas
questões, são demasiado importantes para que possamos dizer que não vale a
pena, não adianta.
Dados do Eurostat confirmam aquilo que só os que
entendem que a realidade é a projecção os seus desejos negam, os níveis insustentáveis
de pobreza que afligem os portugueses, designadamente crianças e idosos.
Segundo dados de 2011, Portugal apresenta um risco de pobreza e exclusão social
nas crianças e nos idosos acima da média da UE. Mais precisamente, 28,6% das
crianças portuguesas estavam em risco de pobreza e exclusão social face a 27%
da UE e para os idosos, mais de 65 anos, os indicadores são 24,5% entre os portugueses
e uma média de 20,5% na UE.
Como será previsível, dada a situação de 2012 e a
que atravessamos actualmente, o quadro negativo pode ter-se acentuado.
Continua, pois, um devastador cenário do qual
releva o aumento brutal de situações de pobreza, bem acima das estatísticas
oficiais, o aumento fortíssimo do desemprego e do número de pessoas
desempregadas sem subsídio de desemprego, o abaixamento dos apoios sociais, a
pobreza a afectar crianças e idosos, sempre os grupos mais vulneráveis.
Relembro o recentemente divulgado Relatório da Cáritas Europa que também
referia o aumento da pobreza infantil em Portugal e a manutenção de simetrias
gritantes na distribuição da riqueza.
Este é o resultado de uma persistência cega e
surda no “custe o que custar", no cumprimento dos objectivos do negócio
com a troika e dos objectivos de uma política "over troika",
atingindo claramente o limite do suportável e afectando gravemente as condições
de vida de milhões. Estamos a falar de pessoas, não de políticas, ou melhor
estamos a falar do efeito das políticas na vida das pessoas. Talvez isto fosse
de considerar em pleno período de avaliação com a presença dos administradores
do país por cá, assim os feitores que nos governam assumissem um
"basta" que tarda.
Creio que já ninguém consegue sustentar que este
trajecto nos possa levar a bom porto. Na verdade, o caminho decidido, por
escolha de quem o faz, é bom registar que existem alternativas, está a aumentar
assimetrias sociais e obviamente a produzir mais exclusão e pobreza mas,
insisto, mais preocupante é a insensibilidade da persistência neste caminho.
Os protestos decorrentes da pobreza, do
desemprego, da desesperança e da indignação prenunciam uma instabilidade que é
resultante deste caminho. Para cada vez mais gente, o abismo está mais perto,
não está mais longe, como Passos Coelho sustentava há algum tempo.
Contrariamente ao que nos querem fazer acreditar
a maioria das famílias portuguesas não viviam ou vivem acima das suas
possibilidades, mas cada vez mais famílias estão a viver abaixo das suas
necessidades, pobres, sem apoio e em risco de exclusão. Os sucessivos Governos,
desta e de outras terras, é que subscreveram políticas públicas que assentes em
modelos económicos sem alma nem ética produziram o inferno em que vivemos, não
foram as famílias, na sua maioria que o produziram.
Com este terramoto social e económico ainda
insistem em que temos de empobrecer, expressão que indigna até à raiva. NÓS JÁ
ESTAMOS POBRES, NÃO PODEMOS FICAR MAIS POBRES, entendam isto de uma vez por
todas.
Nós não precisamos de empobrecer, falar de
empobrecer é insulto e terrorismo social como já afirmei. Nós precisamos de
combater a assimetria da distribuição da riqueza e produzir mais riqueza,
precisamos de combater mordomias e desperdício de recursos e meios ineficientes
e muitas vezes injustificados que alimentam clientelas e interesses outros. Nós
precisamos de combater a teia de protecção legal e política aos interesses dos
mercados e dos seus empregados que conflituam com os interesses das pessoas.
Nós não precisamos de empobrecer, nós já somos um dos países mais pobres e
assimétricos da Europa com perto de um terço da sua população pobre ou em risco
de pobreza, com miúdos a chegar às escolas com fome, com gente sem trabalho e
sem apoio social.
O que precisamos é de coragem e visão sem
subserviência ao ditado dos mercados e dos seus agentes para definir modelos
económicos, sociais e políticos destinados a pessoas e não a mercados ou a
grupos minoritários de interesses mesmo que mascarados em malditos planos de
"ajustamento", de "resgate" ou ainda e de forma ofensiva de
"ajuda".
Desculpem a insistência.
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