No Público de hoje encontra-se um excelente
trabalho sobre um universo pouco divulgado e que é fonte de uma enorme
inquietação e sofrimento em adolescentes e famílias. Trata-se do comportamento
de automutilação, adolescentes e jovens causam sofrimento a si próprios.
Segundo os dados referidos na peça e já conhecidos, são creio que de 2011, relativos
ao estudo sobre a saúde e os comportamentos dos adolescentes portugueses,
coordenado pela Professora Margarida Gaspar de Matos e realizado no âmbito da
OMS, cerca de 15.6 % dos adolescentes inquiridos, com catorze anos de idade
média, afirma já se ter magoado de propósito mais do que uma vez nos últimos
doze meses à data do estudo. Os comportamentos de automutilação em adolescentes
são mais frequentes do que muitas vezes pensamos. Alguns estudos internacionais
apontam para cerca de 10% da população em idade escolar com comportamentos de automutilação
pelo que os dados encontrados em Portugal são, de facto, preocupantes.
Este quadro é um indicador do mal-estar que
muitos adolescentes e jovens sentem. Em muitas situações não conseguimos estar
suficientemente atentos. Acontecem com alguma frequência situações de
sofrimento com as mais diversas origens, relações entre colegas, bullying por
exemplo, ou relações degradadas em família que facilitam a instalação de
sentimentos de rejeição, ausência de suporte social, facilitadoras de
comportamentos autodestrutivos. Começa também a emergir como causa deste mal
estar a dificuldade que algumas crianças e adolescentes sentem em lida com
situações de insucesso escolar. Estas dificuldades são frequentemente
potenciadas pela pressão das famílias e pelo nível de competição que por vezes
se instala.
O sofrimento e mal-estar induz uma espiral de comportamentos
em que os adolescentes causam a si próprios sofrimento que promove mais
sofrimento num ciclo insuportável e com níveis de perplexidade, impotência e
sofrimento para as famílias também extraordinariamente significativos.
Depois das ocorrências torna-se sempre mais fácil
dizer qualquer coisa mas é necessário. Muitas crianças e adolescentes
evidenciam no seu dia-a-dia sinais de mal-estar a que, por vezes não damos
atenção, seja em casa, ou na escola espaço onde passam boa pare do seu tempo
boa parte do seu tempo, De facto em muitos casos, designadamente, em
comportamentos de automutilação, pode ser possível perceber sinais e
comportamentos indiciadores de mal-estar que aliás são referidos no trabalho do
Público. Estes sinais não podem, não devem, ser ignorados ou desvalorizados. É
também importante que pais e professores atentos não hesitem nos pedidos de
ajuda ou apoio para lidar com este tipo de situações. Muitos pais, diz-me a
experiência, sentem-se de tal forma assustados que inibem um pedido de ajuda
por se sentirem culpabilizados, envergonhados ou simplesmente por medo.
O resultado pode ser trágico.
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