Nunca alguma criança tinha sido tão desejada como
aquela. Quando ele nasceu, o Protegido, os pais acharam que era sua obrigação
fazer com que nada do que se passava no estranho e difícil mundo actual o
perturbasse.
O Protegido foi crescendo quase sem sair de casa.
Tudo o que achavam que ele queria ou precisava lhe era oferecido. Foi para uma
escola muito bem escolhida, onde quase só andavam outros Protegidos. O seu
mundo variava entre a casa, o carro, a escola e, de vez em quando, a casa de
outro Protegido. Assim foi vivendo sem outros horizontes que não os definidos
pelos seus atentos pais.
Um dia, tinha o Protegido aí uns treze ou catorze
anos, o Avô de longe veio visitá-lo. Só o tinha visto uma vez, era ainda
pequeno. Sem dizer nada aos pais, o Avô foi com o Protegido passear pela rua. O
Protegido estava espantado, nunca tivera oportunidade de ver assim a rua. Viu
rapazes da sua idade no parque a brincar e jogar à bola, ele que só jogava
futebol no seu quarto com a consola. Viu rapazes e raparigas a entrar no cinema
para ver o filme que ele via em DVD em casa. Viu muitas coisas que não sabia
fazerem parte da vida de gente da sua idade.
Cansados, sentaram-se num banco do jardim. O
Protegido mantinha-se perplexo e calado. Num banco mais à frente, um Rapaz e
uma Rapariga namoravam indiscretamente. O Protegido não tirava os olhos deles.
Quando se levantaram, passaram ao pé do Protegido e do Avô. O Rapaz, olhou para
o Protegido e disse-lhe “Acho que te conheço da minha escola, como é que te
chamas?”
Infeliz, disse o Protegido.
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