Ao que parece, o Primeiro-ministro foi recebido
na Faculdade de Direito de Lisboa com uma inaceitável encenação que envolveu um
coelho enforcado.
Como é evidente, a relação entre pessoas, mesmo
em situações de protesto, pressupõe regras de urbanidade e princípios que
inibem alguns comportamentos, estabelecendo limites para lá dos quais se corre
o risco do ilícito criminal ou do aceitável do ponto de vista ético e moral. Do
meu ponto de vista, a ser como está descrito, esta situação é na verdade
lamentável, no mínimo.
Por outro lado, as circunstâncias, os contextos
de ocorrência dos comportamentos são variáveis a ponderar e, frequentemente,
são consideradas atenuantes ou agravantes de comportamentos que, portanto, não
devem ser analisados sem essas variáveis contextuais.
Serve esta introdução para dizer que apesar da mórbida
encenação, não é de desconsiderar o contexto, os contextos, em que episódios
desta natureza ocorrem. O aparecimento público do Primeiro-ministro ou de outros
membros do governo, coloca-os perante cidadãos ou grupos de cidadãos que os
identificam como responsáveis por decisões e políticas com fortíssimos
impactos, negativos evidentemente, nas suas vidas. Aqui não releva a justiça ou
injustiça desta percepção, é assim que é percebida.
Neste contexto, a reacção a políticas é com
alguma frequência marcada por reacções de natureza emocional que não
branqueando ou desculpando, insisto que entendo o episódio de hoje
absolutamente inaceitável, solicitam, do meu ponto de vista, leituras mais
cautelosas. Aliás, se bem atentarmos nos testemunhos recolhidos em
manifestações ou protestos é bastante clara a carga emocional que envolve os
comportamentos observados e que se traduzem em comportamentos extremados como
verificamos na Grécia, em Espanha, por cá em mais reduzida escala no número e
intensidade ou mesmo no extremo do recurso à tragédia das imolações ou do
suicídio como forma de protesto como tragicamente temos assistido.
Por outro lado, importa não esquecer, que muitos
de nós se sentem diariamente insultados, não pelo cidadão Passos Coelho, mas
por um Governo que nas suas escolhas tem produzido desemprego, pobreza e
exclusão. Se a este cenário devastador e perturbador das pessoas, não é por
acaso que aumentam exponencialmente os casos de perturbações depressivas ou da
ansiedade, juntarmos comportamentos e declarações sucessivas de altos
responsáveis da área do Governo que são absolutamente insultuosas da dignidade
e da inteligência das pessoas, está criado um caldo de cultura potencialmente
explosivo e onde facilmente germinam os excessos.
Estes excessos podem não ficar-se por insultos desbocados
ou esta enormidade do coelho enforcado, quem semeia ventos pode colher tempestades.
4 comentários:
Os estudantes referiram que não desejavam a morte a ninguém e que o coelho não simbolizava passos coelho mas sim o enforcamento das políticas governativas.
Pessoalmente, não me chocou absolutamente nada. Revolta-me e humilha-me muito mais o que este governo faz ao povo.
A ver vamos...
Inaceitável utilizar um coelho enforcado como forma de repúdio pelas políticas do sr. coelho ?!!!
E os milhares de crianças que passam fome porque o sr. pedro é socialmente autista, É O QUÊ ?!!!
Pelo que tenho lido do Senhor Professor José Morgado espanta-me esse MELINDRE...
VIVA!
Como procurei escrever a minha questão não está no protesto e, muito menos, nas razões de protesto, existem muitas e graves, mas porque entendo que nem tudo me parece razoável, pendurar um animal num pau, é um exemplo do que pessoalmente discordo.
Percebi perfeitamente a sua questão. Aliás, o Senhor escreve com clareza e em bom Português (aprecio o seu dasacordo ortográfico).
Pode crer que tenho o máximo respeito pelas discordâncias alheias.
Tenho o mesmíssimo respeito pelas minhas insensibilidades pontuais.
O coelho, (mamífero roedor leporídeo selvagem ou doméstico) já estava morto quando o penduraram na corda. Por isso considero que no máximo exista matéria para acusar os manifestantes de profanação de cadáver.
O que escrevi é um flash da minha moral.
VIVA!
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