Uma boa notícia vinda da 5 de
Outubro, registo com agrado. Após uma insensata decisão de recusar admitir em situação de exame as
especificidades de alunos com necessidades especiais assente numa inaceitável
ideia de "normalização", o MEC repõe a possibilidade de, consoante a
natureza dos problemas dos alunos, assim se possam verificar ajustamentos que
poderão passar, por exemplo, pela leitura dos exames para alunos com um diagnóstico
comprovativo de dislexia ou a realização de provas ao nível da escola para
alunos com outro tipo de problemas.
Trata-se de uma boa decisão, embora contenha ainda matérias que devem, esperamos, ser corrigidas. A
situação existente era claramente lesiva dos direitos de alguns alunos com
necessidades especiais, conforme a intervenção do Provedor de Justiça
confirmou. Era também lesiva da autonomia das escolas.
A regulamentação agora conhecida,
não sendo perfeita, representa claramente um avanço numa perspectiva de defesa
dos direitos dos miúdos, de todos os miúdos, a processos educativos de
qualidade e com possibilidade de serem bem sucedidos.
São recorrentes os discursos
contra a defesa de uma modelo de educação inclusiva. Na maioria das situações
estes discurso assentam em dois equívocos essenciais.
O primeiro resulta do entendimento
de que educação inclusiva respeita a alunos "especiais". Na verdade,
educação inclusiva respeita a todos os alunos, ou seja, um aluno com
capacidades e competências "normais", seja lá isso o que for, que
abandone a escola sem sucesso escolar ou sem qualquer tipo de qualificação
contraria o princípio da educação inclusiva, e, naturalmente corre o sério
risco da exclusão social.
Um segundo equívoco em torno da
ideia de educação inclusiva presente nos discursos que a consideram um erro, uma
utopia, ou mesmo algo de condenável, decorre, do meu ponto de vista, da não
aceitação de um princípio de discriminação positiva que contrarie a cultura de
que justiça, democracia, em contextos educativos, se traduzem por tratar todos os
alunos da mesma forma, numa perspectiva de normalização fundamentalista que se
poderá aplicar a maçãs, batatas ou a dimensão dos carapaus, mas que numa
população humana cuja característica mais prevalente é a diversidade, introduz
um enorme risco de exclusão com consequências conhecidas. Deste entendimento resulta
muitas vezes uma acusação de a educação inclusiva "pretende" um
caminho "facilitista". Trata-se justamente do contrário, pretende-se
que cada aluno atinja tanto quanto possível os patamares mais exigentes que a
sua condição, as suas capacidades e competências permitam.
Creio que parte das medidas agora
conhecidas caminham no sentido certo, não da normalização, mas da equidade, ou
seja, considerar que existem alunos com condições e características específicas
que não podem, não devem, por essa situação, verem negados os seus direitos.
5 comentários:
Uma boa notícia, de facto.
Só é pena que o bom senso do MEC tenha prazo de validade e se aplique apenas aos alunos que se encontram actualmente em ano de exame, obrigando a que, no próximo ano, seja travada nova luta pelos direitos dos que então estiverem nas mesmas condições.
Esta coisa de se legislar ano a ano e condicionar as grandes decisões pedagógicas a prazos de validade/ transitoriedade é deplorável e desgastante.
Sem dúvida, por isso disse que ainda seria necessário ajustar o que foi agora definido
Mas como é que pode ser uma boa notícia se nada mais é que um presente envenenado?
Estas medidas abrem um pressuposto GRAVÍSSIMO de discriminação dos alunos com NEE, uma vez que não só terão de trabalhar muito mais que os seus colegas - nos exames nacionais - como verão o acesso ao ensino superior estritamente condicionado, além da salvaguarda de que se não passarem nos exames de 9º serão colocados no ensino profissional! Pura discriminação! Os alunos devem ter LIBERDADE DE ESCOLHA INDEPENDENTEMENTE das suas condições de saúde, origem, género ou classe! Isto é um escândalo, como se pode ficar contente com tamanha barbaridade?!
Não fiquei contente e escrevi que se tratava algo de positivo mas não suficiente.
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