quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

AS NOVAS QUALIDADES DAS FAMÍLIAS

O Público divulga um trabalho interessante sobre o universo das famílias tratando numa perspectiva de longo prazo as questões do casamento, dos divórcios, em termos gerais da conjugalidade, comporta um conjunto de dados interessantes indiciando mudanças significativas nesta área, algumas das quais com uma provável ligação com a situação grave que atravessamos, como é o caso de pessoas que apesar de finalizar o casamento, continuam a partilhar a mesma casa por razões económicas, embora talvez possa ser prematuro o estabelecimento de relações de causalidade. De facto, a família e as suas dinâmicas de constituição, organização, constituição e funcionamento têm sido recorrentemente objecto de referência, acentuando sobretudo os processos de mudança envolvidos.
No entanto, do meu ponto de vista, quase sempre me parece que as diferentes abordagens não valorizam, por vezes nem referem, um aspecto que me parece extraordinariamente relevante e que considero dos mais complexos desafios sociais que actualmente enfrentamos, a educação familiar, ou seja, o que é, o que deve ser, como deve ser a educação familiar em contextos altamente diferenciados e em mudanças permanentes.
De facto, as enormes alterações que temos vindo a constatar no universo das famílias implicam uma séria reflexão sobre as suas implicações na educação familiar. O paradigma clássico, a família educativa e a escola instrutiva, mudou substantivamente o que não significa, obviamente, a alienação do papel educativo da família, mas sim atentar nas novas qualidades que esse papel vai assumindo, parafraseando Camões.
Desde logo porque, por questões de logística e funcionalidade, o tempo familiar para as crianças encolheu de forma dramática, os miúdos passam tempos infindos na escola sob um princípio a que até o ME se lembrou de chamar de forma infeliz “Escola a tempo inteiro”. As famílias expressam uma enorme dificuldade em compatibilizar o que ainda entendem ser o seu papel educativo com a pressa e o pouco tempo que assumem ter para o realizar. Tenho conhecido dezenas de pais que se sentem culpados e fragilizados por entenderem que não têm para os filhos a disponibilidade de tempo e atitude que julgam necessária. Esta culpa e fragilidade é, com frequência, a base inconsciente que impede alguns pais de serem consistentes e firmes na definição de regras e limites imprescindíveis às crianças, pois “temem estragar” o pouco tempo que têm com elas devido a um eventual conflito.
Uma outra questão prende-se com o modo e a dificuldade que muitos pais me referem sentir quando lidam com as crianças em situação de “duas famílias”. Mais uma vez, as inseguranças e algum sentimento de culpa estão presentes e contribuem para embaraços que levam os pais a pedir alguma ajuda. Como sempre digo, é preferível uma boa separação a uma má família, mas alguns pais sentem-se inseguros para construir cenários de educação familiar com qualidade quando têm a guarda das crianças repartida.
Na situação que actualmente tem alguma expressão, pessoas que se separam mas continuam a partilhar a mesma casa, colocam-se, por vezes e quando existem filhos, algumas ansiedades e inquietações nos pais sobre a forma de lidar com um contexto em que aparentemente existe uma família, quando na verdade já são duas com uma criança entre elas.
A experiência mostra, como referi acima, que a educação familiar se constitui como uma área extremamente complexa, não existem dois contextos familiares iguais sendo que, para além de tudo, se trata de um universo extremamente sensível a valores e convicções.
Assim sendo, importa estarmos atentos e procurar disponibilizar apoios e orientações nas situações em que os pais revelam e exprimem mais insegurança e dificuldades. Estas situações são bem mais frequentes do que julgamos ser.

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