sábado, 9 de fevereiro de 2013

A DOR QUE NÃO DEVE SER NOTÍCIA

"Mãe atira filho pela janela e suicida-se em seguida". Na imprensa.
A dor e o mal estar tão pesados e insustentáveis que só a morte aquieta, não devem ser uma notícia pública, muito menos assim titulada.
Trata-se de uma tragédia individual e familiar.
Não, não se trata de censura, o drama e a tragédia individuais exigem pudor e contenção.

3 comentários:

Anónimo disse...

Concordo plenamente!
Porquê Noticiar, e de forma tão crua(o chão com evidências de sangue...)esta dor?! que se respeite a memória de quem parte e a dor dos que ficam

Ana disse...

Também me chocou ver esta notícia entrar-me pela casa dentro, sem qualquer pudor.
E lembrei-me imediatamente do comentário de uns garotos de 7º ano de escolaridade, esta semana, na aula de Português, a propósito do estudo da Notícia (como tipologia de texto jornalístico), que faz parte do programa da disciplina: “As mães estão a ficar todas malucas”. Inventariaram os últimos casos todos noticiados, com rigor cronológico. E este ainda não era conhecido.
Desrespeitoso, despropositado e até nefasto.

Ofelia Cabaço disse...

As Notícias
As manhãs na redação
São de inquieta ambição
Há novidades que tocam corações
Dizem ao mundo cruéis ações

Na primeira página, retrato do ladrão
A seguir um rol de virtudes
E depois, o morgado está em casa
É um sacrilégio, nada esconde na asa

Mais adiante:
O camponês assaltou o quintal
Da cultura roubou batatas
É um ladrão e tal e tal,
Para a cadeia, vai ele sem mais fitas

Os filhos têm fome, não interessa
O casebre está podre, não importa
Para o intruso não há pressa
Furioso o patrão trancou a porta

O morgado, na sua mansão lê a Bíblia
Matou a cliente, roubou terras
É doutor, assiste à homilia
Sensível, chora lágrimas derradeiras

Tem boas ações,
Gosta de criancinhas
Oferece um hospital
Roubou mil trancinhas
E, agora, é fenomenal!

Na redação tudo é notícia
O importante é vender com malícia
Destacam-se crimes de importantes
Menospreza-se desejos de protestantes

O ladrão de galinhas é coitado
O assassino poderoso tem milhões
Repousa descansado em mil colchões
O pobre desgraçado é chicoteado

Ficamos pasmados a presenciar!
Nós, nada fazemos, senão reclamar
Estão mortos os que sabem conferenciar
Que deram bons exemplos a navegar.

Ofélia Cabaço 2013-01-27