"Mãe atira filho pela janela e suicida-se em seguida". Na imprensa.
A dor e o mal estar tão pesados e insustentáveis que só a morte aquieta, não devem ser uma notícia pública, muito menos assim titulada.
Trata-se de uma tragédia individual e familiar.
Não, não se trata de censura, o drama e a tragédia individuais exigem pudor e contenção.
3 comentários:
Concordo plenamente!
Porquê Noticiar, e de forma tão crua(o chão com evidências de sangue...)esta dor?! que se respeite a memória de quem parte e a dor dos que ficam
Também me chocou ver esta notícia entrar-me pela casa dentro, sem qualquer pudor.
E lembrei-me imediatamente do comentário de uns garotos de 7º ano de escolaridade, esta semana, na aula de Português, a propósito do estudo da Notícia (como tipologia de texto jornalístico), que faz parte do programa da disciplina: “As mães estão a ficar todas malucas”. Inventariaram os últimos casos todos noticiados, com rigor cronológico. E este ainda não era conhecido.
Desrespeitoso, despropositado e até nefasto.
As Notícias
As manhãs na redação
São de inquieta ambição
Há novidades que tocam corações
Dizem ao mundo cruéis ações
Na primeira página, retrato do ladrão
A seguir um rol de virtudes
E depois, o morgado está em casa
É um sacrilégio, nada esconde na asa
Mais adiante:
O camponês assaltou o quintal
Da cultura roubou batatas
É um ladrão e tal e tal,
Para a cadeia, vai ele sem mais fitas
Os filhos têm fome, não interessa
O casebre está podre, não importa
Para o intruso não há pressa
Furioso o patrão trancou a porta
O morgado, na sua mansão lê a Bíblia
Matou a cliente, roubou terras
É doutor, assiste à homilia
Sensível, chora lágrimas derradeiras
Tem boas ações,
Gosta de criancinhas
Oferece um hospital
Roubou mil trancinhas
E, agora, é fenomenal!
Na redação tudo é notícia
O importante é vender com malícia
Destacam-se crimes de importantes
Menospreza-se desejos de protestantes
O ladrão de galinhas é coitado
O assassino poderoso tem milhões
Repousa descansado em mil colchões
O pobre desgraçado é chicoteado
Ficamos pasmados a presenciar!
Nós, nada fazemos, senão reclamar
Estão mortos os que sabem conferenciar
Que deram bons exemplos a navegar.
Ofélia Cabaço 2013-01-27
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