quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

GRÂNDOLA VILA MORENA, ENVELOPE OU MENSAGEM?

A utilização da canção de José Afonso, "Grândola, vila morena" em acções de protesto começa a ser recorrente.
Como é evidente, a canção tem um valor simbólico fortíssimo que, aliás, transparece na sua recente utilização em Espanha também numa acção de protesto.
No entanto e do meu ponto de vista, mais do que falar da peça de José Afonso e das tentativas de apropriação como procurou de forma patética fazer o líder parlamentar do PSD, afirmando o óbvio, esta canção não tem dono, tem apenas autor, vale a pena atentar no que a sua utilização significa como mensagem.
A canção Grândola é apenas um envelope, muito bonito, dentro do qual se estão enviar mensagens cada vez mais claras de desesperança, mal-estar, dificuldade em manter com dignidade a sobrevivência, a perspectiva de um futuro que não se vislumbra, a insensatez de discursos e comportamentos que nos insultam, o despudor da desigualdade, etc., etc.
Mais do que discutir o que se canta, quem é que canta, onde é que canta talvez seja de reflectir seriamente sobre porque é que se canta a Grândola.
Um dia destes pode acontecer que se passe do canto à acção. Parece cada vez mais estreita a linha que separa um protesto em forma de cante alentejano duma acção mais perto da tragédia grega.
 

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