Um administrador do Taguspark afirmou hoje na
sessão do julgamento em curso, que quando desempenhou funções de administração
na RTP sofreu pressões por parte do Governo, na altura o PS, no sentido de influenciar o trabalho jornalístico.
Nada de novo. A relação de boa parte da classe
política e dos líderes dos diferentes poderes existentes nas nossas comunidades
com a comunicação social tem aspectos muito interessantes. Se estivermos
atentos, reparamos como todos se procuram servir da comunicação social para a
defesa dos seus interesses pessoais, partidários, institucionais, económicos,
etc. Nada de novo, sabemos o peso que a comunicação social tem nas sociedades
actuais e nos últimos tempos também temos tido sucessivos episódios
ilustrativos dessas nebulosas relações. Aliás, hoje um dos bons mestres, ou pelos menos licenciados, em Controlo da Comunicação Social, o actual ministro da tutela, o "Dr." Miguel Relvas, foi hoje impedido pelos protestos dos assistentes de proferir uma intervenção sobre o "Futuro do Jornalismo" que seria de grande interesse científico e político dada a experiência e currículo do orador.
Nesta matéria, para além das consequências óbvias
destes comportamentos, parece-me particularmente irritante a forma quase
infantil, está um pouco na moda este tipo de infeliz comparação mas não
resisto, como algumas figuras reagem ao ser abordadas pela imprensa sobre
assuntos sobre os quais, por várias razões, não lhes interessa discorrer.
Surgem então as afirmações patéticas, “não tenho nada a acrescentar”,
“desculpem, não comento”, “não estou aqui para falar dessas matérias,” etc.,
etc. Desenvolvem assim uma espécie de surdez selectiva, só ouvem o que lhes
convém, de mutismo selectivo, só falam do que lhes convém, de cognição
selectiva, só conhecem o que lhes convém.
As mesmas figuras que directamente ou através de
terceiros, lambem as botas às redacções e aos jornalistas (quanto mais
influentes melhor) e pedem, exigem, tempo de antena quando tal serve os seus
diferentes interesses.
Algumas dessas figuras quando, quase sempre fruto
do alpinismo partidário, ascendem a alguma forma de poder conseguem ainda ir
mais longe nessa relação com a imprensa, se não lhes agrada calam-na como
também não é raro. É um método velho e intemporal.
Devo confessar que tal cenário é, para mim,
profundamente irritante e patético, sinto que nos insultam, que nos consideram
destituídos, como se por não abordarem as diferentes matérias, elas não se
passassem ou não existissem ou, noutros processos, que somos manipulados de
forma nem sempre perceptível pela opacidade das situações.
Finalmente, incomoda-me uma comunicação social,
boa parte dela, passiva e resignada, que não confronta as figuras públicas com
estes comportamentos, não os denuncia, e que acorrem solícitos quando essas
figuras entendem que têm algo a dizer, as mais das vezes, irrelevante. Também
lhes convém esta subserviência interesseira que alguns mantêm, também têm as
suas agendas. Às vezes são recompensados.
É tudo farinha do mesmo saco como dizia a minha
Avó Leonor.
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